sábado, 5 de dezembro de 2009

A má-criação do Primeiro-Ministro

Já aqui disse, várias vezes, que considero José Sócrates como o principal responsável pela forma indigna como se desenrola o debate político em Portugal. Poder-me-ão dizer que Manuela Ferreira Leite se deixa mover, principalmente, pelo inexplicável ódio que nutre em relação ao Primeiro-Ministro – para o qual não há justificação: entre políticos pode e deve haver divergências, mas esta repulsa mal escondida não contribui para reforçar a democracia. Ainda assim, a presidente do PSD não vai tão longe como Sócrates quando se trata de insultar os adversários ou de se lhes referir em termos jocosos ou depreciativos.


Vem isto a propósito das declarações feitas por Sócrates no último debate sobre o Estado da Nação. Mais uma vez, o Primeiro-Ministro não resistiu a transformar essa tribuna – que devia ser a de uma discussão dura mas correcta entre líderes partidários – numa espelunca onde se dizem palavras feias e se deixam transparecer pensamentos indignos. Alguém falou de "circo" (Francisco Camacho, no "i") mas isso seria retirar dignidade a este espectáculo, mesmo tendo em conta que alguns macacos fazem, como Sócrates, figuras tristes.


A Manuela Ferreira Leite, acusou-a de "transformar a coscuvilhice em linha política" e "de lançar lama (...) sobre os adversários políticos". A Paulo Portas, aconselhou-o a "ter juizinho" – o mesmo que, ao que parece, diz aos filhos, que certamente o aturam como podem.


Isto é grave. Isto é indigno. Sócrates sempre foi arrogante; agora, imita Graça Moura e está a ficar malcriado. Qualquer dia, temos que nos perguntar se uma personalidade destas pode ser Primeiro-Ministro. O país merece algum respeito.


Terei que dizer que, para quem ande distraído, que não sou suspeito de votar PSD? Muito menos, de gostar de Ferreira Leite ou Portas? Limito-me a criticar José Sócrates por não corresponder ao que se espera de alguém na sua posição. As tribunas de São Bento não são lugares para desordeiros da praça pública. E a arruaça não satisfaz a democracia.