quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A má-criação de Vasco Graça Moura

Ando a fazer muitas perguntas ultimamente. Esta é a última: pode-se ser um grande poeta e uma personalidade arrogante e mesmo mentirosa – alguém que não sabe discutir porque não admite o mais leve indício de honestidade nos seus opositores? Sim!


Vasco Graça Moura é a prova de tudo isso. Grande poeta, homem de cultura, perde a cabeça quando se trata de criticar o governo socialista e José Sócrates. Para mim, anda a perder tempo com ruim defunto. Mas ele lá sabe. A verdade é que gosta de se deixar enredar em nojeiras.


O seu último artigo, no Dário de Notícias de ontem (2 de Dezembro), é, se necessidade havia, a prova clara dessa sua incrível maneira de ser quando veste a roupa de político militante e que é - que pena! - tão diferente da sua forma de estar no mundo literário.


Vejamos, então, o que diz...


Para Vasco Graça Moura, o nosso país «está a tornar(-se n)uma autêntica porcaria». São "unânimes" as vozes que o dizem. Desconfio que, nesta unanimidade, faltarão as falas socialistas mas isto é mero detalhe porque, para Graça Moura, essa gente não passa de um conjunto de imbecis incapazes de ter opinião sobre o que quer que seja.


Acrescenta: «Esta é uma situação indiscutível. Na política, a porcaria salta à vista todos os dias. A governação socialista tornou-se, desde há muito, um sinónimo ominoso de aldrabação sistemática dos cidadãos, de passes de prestidigitação grosseira e de manipulação descarada da opinião pública».


Não tenho a certeza que a palavra aldrabação exista – o que parece grave num tão acérrimo defensor da língua portuguesa; os dicionários que consultei dizem que não, que a forma correcta é aldrabice – mas é difícil duvidar do sentido das palavras de Graça Moura. Para que não restem dúvidas: «É claro que o eleitorado devia ter defenestrado devida, definitiva e implacavelmente, o Partido Socialista nas últimas eleições. Mas não o fez. (...) Com esse lindo serviço, Portugal continua a ser outra valentíssima porcaria na economia e nas finanças. Estas derrapam todos os dias escandalosamente. A economia enfia-se cada vez mais num buraco sem fundo. O desemprego aumenta de modo galopante e imparável e vai continuar a crescer com todas as consequências inerentes».


Para reforçar a sua opinião, Vasco Graça Moura diz ainda mais: «É um facto indesmentível que este Governo adoptou como programa o paleio a mascarar o falhanço e como método de acção o falhanço mascarado pelo paleio. A política económica e financeira da governação socialista é mais uma porcaria irresponsável, imprópria de um Governo normal de um Estado civilizado». Peço imensa desculpa mas estes impropérios não me parecem factos, muito menos indesmentíveis, mas apenas (baixas e mal escritas) opiniões.


E, com a beleza dum final crepuscular, aqui ficam as palavras de fecho deste notável artigo: «É bem feito. O país votou nessa cambada. O país prefere a porcaria. Já está formatado para viver nela e com ela. Sirvam-se. Ponham-se a jeito. Besuntem-se.» (Eu, que não sou particularmente púdico, quase coro ao tentar aprofundar a vulgaridade destas expressões.) Nesta extrema podridão, salvam-se Graça Moura, certamente Pacheco Pereira, e, talvez, Manuela Ferreira Leite.


No conteúdo e na linguagem, esta é uma forma peculiar de contribuir para a elevação do discurso político. Depois disto, admirar-se-á Graça Moura que o PS ainda venha a ganhar as próximas eleições? É que, se isso acontecer, a razão é este tipo de atitudes. Ninguém vota num partido cuja única mensagem é o insulto soez. Não será o PS a vencer, será o PSD a perder. Talvez fosse altura dos Graças Mouras do partido pensarem nisto.