sábado, 25 de setembro de 2010

Técnicas de imagem médica

Nos últimos tempos, tenho pensado bastante em como progrediram os meios de imagem médica que facilitam o diagnóstico de doenças até agora quase impossíveis de detectar com probabilidade razoável.

Quando tive a pericardite e efectuei a ecocardiografia de controlo que me permitiu sair dos cuidados intensivos e voltar para o quarto, deparei-me de chofre com essa nova realidade. Perguntei o meu médico como se faziam as coisas "dantes". A resposta foi que através de injecções em vários pontos do tórax, comparando as pressões. O Carlos acrescentou que, em última análise, se podia iniciar o tratamento por motivos preventivos. Se houvesse líquido a envolver o coração, ele seria expulso. Senão (ele não disse mas eu imagino), que sorte! Ou que azar, se o diagnóstico fosse afinal outro mais grave.

Tanto bastou para ter a ideia de como evoluíram as coisas. O meu enfarte, no início de Agosto, foi debelado de forma rápida através de uma coronarografia, que permite visualizar as artérias coronária para estabelecer diagnósticos ou com objectivos interventivos ou curativos. Antes do desenvolvimento desta técnica, os médicos estavam à mercê da descrição dos sintomas pelo doente e dos electrocardiogramas. Não era uma situação impossível mas seguramente menos precisa. Não permitiria certamente determinar com exactidão o ponto em que se encontrava a interrupção do fluxo sanguíneo e a destruição quase imediata do obstáculo que impedia a circulação sanguínea. No meu caso, foi obra de menos de meia-hora.

Durante as minhas várias permanências no hospital, e já antes, fiz várias ecografias (à próstata, à tiróide, ao coração), alguns scanners (tórax, abdómen, pescoço) e uma ressonância magnética à cabeça (o truque que funciona comigo é não abrir os olhos e pensar que estou a dormir durante o tempo do teste). Os resultados chegam praticamente em tempo real e o diagnóstico encontra-se extremamente facilitado.

Como diz o Carlos, há o perigo de os médicos passarem a funcionar como meros distribuidores de imagens e de abdicarem do seu papel de iniciativa e de controlo. A imagem médica deve ser um auxiliar do diagnóstico e do tratamento – e não o próprio diagnóstico ou o tratamento. A experiência do médico, aos seus conhecimentos, a sua intuição baseada na experiência, são factores indispensáveis – e mal vão as coisas se os médicos o esquecerem como acontece na primeiras fases de utilização de novas tecnologias, em que tudo se resume a premir, com maior ou menor sucesso, algumas teclas de computadores. Mas não utilizar as novas técnicas porque alguns médicos as utilizam mal seria como deitar fora o bebé juntamente com a água do banho.

A situação é semelhante à de alguns generalistas que se limitam a passar os doentes de especialista em especialista, com o objectivo de alijarem responsabilidades ou de aliviarem o seu esforço. Pode perder-se muito tempo nesta busca, tempo que seria útil para avançar no diagnóstico e tratamento.

Como exemplo, este episódio pessoal. Quando os sintomas da pericardite se tornaram evidentes, telefonei ao meu médico assistente para marcar uma consulta de urgência. Pareceu-me que seria importante que ele me auscultasse e desse a sua opinião sobre o meu extremo cansaço, as dificuldades de respiração, o arfar permanente. Nem me viu. Aconselhou-me por telefone a passar pelo hospital para efectuar uma radiografia do tórax e uma análise de sangue, que revelou uma enorme anemia, tratada com transfusão. E ficámos por ali, embora me pareça que, se me tivesse verdadeiramente examinado em vez de ditar instruções, teria compreendido que qualquer coisa de grave se passava. Mas, na verdade, ele nunca me auscultou, nunca me palpou, nunca, de forma alguma, me tocou. Trata-se, entre nós dois de uma espécie de medicina à distância e distributiva de cuidados especialistas.

É por isso que vou mudar de médico.