Estou sempre zangado quando estou a morrer - Tony Judt (1948-2010)
Tony Judt foi um dos maiores historiadores do século XX. Especializado na época contemporânea, a sua obra magna Post War apresenta, talvez pela primeira vez, uma panorâmica da Europa depois de 1945 que não se limita à Europa Ocidental mas dedica uma atenção detalhada aos acontecimentos que ocorreram, entre 1945 e 1989, do outro lado da Cortina de Ferro, em países que Tony Judt tão bem conhecia. Há nela, sobretudo, um esforço para perspectivar a história europeia deste período em conjunto, verificando a interpenetração da evolução histórica nestes dois espaços separados.
Tony Judt, que estudou e publicou sobre a França moderna e sobre os seus intelectuais, era o exemplo, paradoxalmente inglês, dum intellectuel engagé. O seu último livro Ill fares the land constitui uma inequívoca denúncia das desigualdades económicas e sociais que se estenderam na Europa e nos Estados Unidos depois de Thatcher e Reagan e um apelo empenhado para uma social-democracia renovada e adaptada às necessidades do mundo dos nossos dias.
Tonu Judt morreu há semanas, no dia 6 de Agosto (dia do meu enfarte), com uma doença horrível (esclerose lateral amiotrófica ou doença de Charcot) que o paralisou progressivamente a partir de 2008. Continuou, no entanto, a poder escrever e ditar e publicou, na New York Review of Books, uma comovente série de artigos sobre a sua vida, o seu judaísmo, e a montanha e os comboios, que adorava.
Foi nesta revista que Timothy Garter Ash, seu amigo, lhe dedicou um reconhecido in memoriam, de que retiro estas palavras (tradução minha):
"Tony era um lutador, e combateu esta doença com toda a sua força e vontade. Não (eram) para ele as consolações de uma eternidade imaginária ou a "aceitação" de Kübler-Rossish. Rimo-nos ambos da magnífica frase que o autor de teatro John Mortimer relatou como vinda da boca do seu pai que morria: "Estou sempre zangado quando estou a morrer". (Tony) era um realista sem ilusões a propósito do que lhe estava a acontecer e sobre o que viria ou não viria depois. Menos de três semanas antes de ele morrer, eu disse qualquer coisa com o objectivo de mostrar que sabia que ele estava a viver um inferno. "Sim", disse-me ele (...), "mas o inferno é uma experiência intransferível. Por isso, é melhor falar doutras coisas: amigos, bêtes noires, política, livros".
1 Comments:
grande post, excelente texto.
abraço
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