Teresa e Carlos Anglin de Castro
Quando soube da minha doença e me decidi a conversar com os meus amigos neste blogue, não podia imaginar o afecto, a ternura, a simpatia, com que as minhas palavras têm sido recebidas. Os comentários de todos e a amizade que revelam emocionam-me muitas vezes e ajudam-me sempre a encarar este tempo tortuoso com a força que me garante a energia para continuar a lutar e a combater.
A Teresa é, de há muito, de muito antes das minhas dificuldades actuais, uma assídua presença neste blogue. E o Carlos escreveu-me ontem uma mensagem, que me comoveu imenso.
Uma parte dessa mensagem é estritamente pessoal e não tem nada afazer aqui. Mas o Carlos acrescenta, de forma tocante, que me acompanha nas suas orações.
Tenho aqui dito que não sou religioso. Mas não é por proselitismo que o faço. Trata-se apenas de manter uma já antiga coerência de pensamento e acção.
Respeito profundamente as convicções católicas e, em geral, as convicções religiosas dos meus amigos e, afinal, de todos. Mais do que aquilo em que acreditamos, o que é importante é a convicção com que acreditamos: a força da nossa fé.
Como poderia ser doutro modo? Fui educado como católico e a maior parte das pessoas que amei – decerto as mais importantes – eram católicas e viviam a sua fé de uma forma profundamente sincera. Recordo a Mãe, em quem penso todos os dias, cuja fé vacilou por vezes em face das enormes dificuldades por que passou, principalmente depois de ter ficado sozinha quando o Pai morreu, mas que, nos últimos anos da sua vida voltou a Deus e encontrou Nele esperança e conforto. Lembro a Avó que, depois da minha Mãe, foi a pessoa que mais amei e, certamente, a pessoa que mais admirei e respeitei, e que conduziu os meus passos dos meus dias de menino até à sua morte. Com a Avó aprendi, não tanto os ensinamentos da religião, que já conhecia, se bem que forma imperfeita, mas, o que foi muito mais importante, a forma de a viver, num misto de reverência pela glória de Deus e de afeição pela Sua criação. E como esquecer a fé inabalável, indestrutível, que nunca hesitou, da minha querida tia Vicas?
Uma das coisas que fiz e me aflige ainda, mesmo depois de passados quarenta anos, foi o facto de, pelos meus dezasseis anos, ter revelado à Avó o meu afastamento de Deus. Ainda hoje recordo o seu desgosto, o seu sofrimento. Claro que foi a reacção de um adolescente para quem proclamar a sua verdade era mais importante do que viver essa verdade. Mas a reacção da Avó fez-me prometer a mim mesmo que, a partir daí, nunca mais "discutiria" religião; e nunca vacilei nessa decisão. Porém, no meu caso, trata-se de mais do que não "discutir"; trata-se se aceitar, de compreender, de respeitar a fé dos outros; e de comungar nela.
Por isso, Teresa, Carlos, quando de forma tão comovente me dizem que me acompanham nas vossas orações, é com profundo reconhecimento que vos agradeço. As vossas orações e as vossas palavras contribuem para que me sinta melhor como pessoa, ajudam-me nestes momentos difíceis, dão-me ânimo e coragem. Bem hajam.
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