terça-feira, 19 de outubro de 2010

Poemas

Manhã de Outono num Palácio de Sintra


Um brilho de azulejo e de folhagem

Povoa o palácio que um jovem rei trocou

Pela morte frontal no descampado


Ele não quis ouvir o alaúde dos dias

Seu ombro sacudiu a frescura das salas

Sua mão rejeitou o sussurro das águas


Mas o pequeno palácio é nítido – sem nenhum fantasma –

Sua sombra é clara como a sombra de um palmar

No seu pátio canta um alvoroço de início

Em suas águas brilha a juventude do tempo



Sophia de Mello Breyner

Dual (1972)



Casa


A antiga casa que os ventos rodearam

Com suas noites de espanto e de prodígio

Onde os anjos vermelhos batalharam


A antiga casa de inverno em cujos vidros

Os ramos nus e negros se cruzaram

Sob o íman dum céu lunar e frio


Permanece presente como um reino

E atravessa meus sonhos como um rio



Sophia de Mello Breyner

Geografia (1967)