quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Documentário: a cisão da Universidade de Leuven em 1968

Ontem, na RTBF (Canal 1), um documentário sobre a cisão, em 1968, da Universidade Católica de Leuven, a expulsão dos estudantes francófonos e a instalação das secções francesas em Louvain-la-Neuve, uma cidade construída do nada. Em 1962, tinham sido criadas em Leuven duas secções, flamenga e francófona, com separação dos cursos e alunos e uma estrutura de direcção comum presidida por um flamengo e um valão mas isso não impediu que a contestação na Flandres continuasse e o processo culminou em 1968, com a clara posição de apoio às reivindicações nacionalistas do episcopado flamengo (o arcebispo de Bruges chegou a dizer, no que se assemelha quase a uma blasfémia, que era flamengo antes de ser católico) e, conduzindo inevitavelmente à queda do governo de Paul Venden Boyenants, Presidente do Partido Social Cristão unitário, a cisão deste partido em dois partidos de base linguística: PSC e do CVP. Por seu lado, a construção de Louvain-la-Neuve só foi completada em 1977 embora a Universidade tenha começado a funcionar, se bem que em condições precárias, a partir de 1971. Estranho tempo em que o espólio de Leuven foi partilhado com espírito de merceeiros: um serviço de china para aqui, um lote de livros acolá. Separaram-se colecções e, para o resíduo dos livros deixados após a partilha, aliás, a divisão fez-se por números de catálogo: par para uma das novas universidades e ímpar para a outra.

Um documentário bastante bem feito e muito oportuno nestes momentos em que a Bélgica se debate novamente com uma crise comunitária grave. A criação das duas universidades e a cisão no Partido Social Cristão foram os primeiros passos na comunitarização do país, que continuou a progredir até aos nossos dias e até à constituição do Estado federal e, quiçá, do fim do país tal como o conhecemos. Não há quaisquer sinais de que a tendência se inverta e hoje fala-se abertamente da constituição de dois Estados independentes. Dá a impressão que, se houvesse solução para Bruxelas, isso já teria acontecido.