Donde vêm os minaretes?
Não precisei das indicações de Vasco Pulido Valente, no Público de sexta-feira passada, para ler dois dos três livros que recomenda. Wolf Hall, de Hilary Mantel, tem-me acompanhado nestes últimos tempos. É um romance histórico que se deve ler devagar, como quem aprecia um vinho velho e bom. Fala-nos de Thomas Cromwell, mas dum Cromwell que este se encontrava ainda numa fase bendita, se bem que perigosa, antes de se enredar em mesquinhas e inglórias histórias do poder supremo – e de ser dele despojado, e morto. A forma de escrever de Mantel é feita de frases calmas e de subentendidos, de insinuações, sugestões, alusões, de innuendos, como para acentuar a situação ainda indefinida do futuro ministro do Rei. Espero ansiosamente a continuação já anunciada. Como será tratado o Cromwell absoluto, no auge da sua força , mas já inseguro, quase certo de vir a ser executado? Mantel reflectirá, no seu estilo, esta mudança de situação?
Mas, se falo dos livros recomendados por Pulido Valente, é sobretudo para me referir ao segundo (o terceiro, Alone in Berlin, de Hans Fallada, não o li): A History of Christianity: The first three thousand years, de Diarmaid MacCulloch, de quem já tinha lido uma formidável história da Reforma, sob o título Reformation – uma obra a todos os títulos excepcional, que a última terá dificuldade em suplantar. Não vou pretender que a li por inteiro. Afinal, na edição inglesa, são 1016 pesadas páginas de texto, sem contar mapas, notas, bibliografia. Li apenas algumas partes e, na medida do possível, por ordem cronológica.
Porque falo agora desta História do Cristianismo (ou da Crinstandade)? E porque escolhi esta fotografia para ilustrar esta entrada no blogue?
Porque MacCulloch nos fala dos eremitas sírios, Simeão e Simeão o Jovem, que passaram anos seguidos empoleirados em colunas. Mas sobretudo porque avança a hipótese de que os minaretes, esses exemplos suiçamente nefastos de uma "cultura árabe dominante", tenham a sua origem nestas colunas tipicamente cristãs. Se assim for, que ironia! Estamos, afinal, a destruir hoje as homenagens muçulmanas à cultura cristã.
O que só quer dizer que toda esta história de conflito, combate, luta, digladiação, entre civilizações ignora a profunda comunhão que há entre as diferentes religiões e a forma como umas e outras se influenciaram mutuamente e espiritualmente se alimentaram. Lições? Aquelas que quiserem tirar algumas almas caridosas. Nada mais; mas nada menos.
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