Avaliação dos professores
Não conheço os pormenores do acordo assinado entre o Ministério da Educação e a maioria dos sindicatos dos professores que põe fim a um conflito que durava, segundo o Público, há quatro anos. Limito-me a dizer que era possível. Isto contraria – e agora dirijo-me ao meu irmão Francisco – as ideias daqueles que consideravam que a FENPROF e os restantes sindicatos eram incapazes duma atitude construtiva. E reforça a minha ideia de que há matérias nas quais o diálogo é indispensável.
António Guterres é o grande responsável pelo mau ambiente que causa em Portugal qualquer referência a uma decisão tomada em diálogo com os interessados. Mas isso é uma mentira. Guterres não pretendia dialogar para decidir; para ele, infelizmente, o diálogo era apenas uma forma de contornar a decisão – de a adiar, de não decidir. Não é dessas conversas que precisamos. Aliás, essas (e outras) atitudes de Guterres conduziram-nos directamente a Sócrates e ao seu estilo autoritário. Isto, apesar da admiração e estima que o actual Primeiro-Ministro nutre pelo seu predecessor socialista.
Não se faz uma reforma do sistema educativo contra os professores e professoras; como não se faz uma reforma do sistema de saúde contra os médicos (as) ou enfermeiros (as). Há coisas, na sociedade moderna, nesta sociedade de risco de que todos falam e mal conhecem, que precisam de ser negociadas. Não apenas porque é democrático agir dessa forma; mas sobretudo porque só assim as decisões são eficazes.
Repito: afinal, o acordo com os professores – mesmo com o sindicato comunista, Francisco – era possível. O que não se compreende é que tenha durado tanto tempo – e obrigado à substituição da equipa do Ministério da Educação – a ser conseguido. Mas, na verdade, todos sabemos porque isso aconteceu. Em fase de maioria absoluta, o Primeiro-Ministro teimou numa proposta que sabia inaceitável para todos os interessados. Quando se encontrou em maioria simples no Parlamento, as suas instruções foram outras. Alcançar um acordo a todo o custo tornou-se o objectivo principal – não fossem os partidos da oposição roubar-lhe o lugar na ribalta. É triste mas, vindo de quem vem, não surpreende.
Guardo o eco das palavras de Isabel Alçada. Depois de tanto disparate, o que é preciso é que as escolas se empenhem na educação – efectiva – dos seus alunos. Parece elementar mas durante estes anos todos estivemos infelizmente preocupados com outras coisas: com os egos de uns e de outros, com saber quem tinha razão numa discussão de que ela estava ausente, com insistências, ordens e imposições. Ficámos com a sensação de que havia uma entidade – o Ministério da Educação – que não se preocupava com o destino (para já não falar do bem-estar) dos professores, afinal uma parte importante dos seus “clientes”; e que estes, por sua vez, se desinteressavam dos verdadeiros afectados por tudo isto: os alunos que têm direito a uma educação de qualidade. É com pena que o digo mas mesmo o meu irmão Francisco achava que, já que não era possível reformar o sistema, o que era necessário era torná-lo mais barato. E, por isso, apenas por isso, apoiava Maria de Lurdes Rodrigues. Conheço a antiga Ministra da Educação e tenho a certeza de que ela foi uma espécie de peão nestas andanças, a dançar ao ritmo do Primeiro-Ministro. Foi pena. Uma mulher como ela merecia melhor sorte. Mas o que defendeu durante quatro anos veio agora a revelar-se, não apenas errado, mas desastrado.
Começa um novo período. Nem tudo serão rosas, Senhor! Mas, pelo menos, criaram-se as condições que evitam as mais fortes picadas dos espinhos. Esta noite, deu-se um pequeno, mas importante, passo em frente. Ficámos todos responsáveis pela qualidade do nosso ensino. Ainda bem!
3 Comments:
quero um artigo sobre a aprovação da proposta do PS sobre o casamento homosexual... fico a espera :p :)
beijinho
Eu estou de acordo com a Trezzu no que respeita a escreveres um artigo sobre a recente aprovação da lei sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, até porque já escrevi sobre esse assunto e não quero ficar sózinho.
Sobre o acordo com os professores, como sabes, não concordo contigo.
O que se passou foi uma espécie de vergonha porque, podendo discordar do estilo, a proposta de evolução na carreira era equilibrada e, mais importante, justa no contexto global da função pública.
O que, na minha modesta opinião, não se percebe é como pode toda uma função pública estar sujeita a um tipo de regras, com cotas e com necessidade de, todos os anos, os avaliadores serem obrigados a escolher, muitas vezes, um e apenas um dos seus 15 ou 20 colaboradores, a quem atribuir a nota de Excelente e, assim, abrandar ou eliminar a possibilidade de progredir na sua carreira de todos os outros e, depois, existe uma classe dessa função púlbica onde esta regra não se aplica.
Como se pode defender um acordo que possibilita o acesso ao máximo da carreira com a classificação de bom quando sabemos que 83% dos professores são classificados com essa nota sendo que 99,5 % foram classificados com bom, muito bom ou excelente?
Pior ainda, como posso acreditar que existem 99,5% de professores com classificação acima de Bom e depois os alunos desses mesmos professores tenham classificações mediocres nos exames a que são sujeitos, mesmo quando, a acreditar nesses mesmos professores, os exames não tenham a exigência que devima ter?
Como podem existir 99,5% de professores BONS ou ainda melhores de BONS quando o grau de preparação dos alunos com quem esses professores trabalham chegam às Universidades é "abaixo de cão"?
Meu querido Zé Pedro, dialogo não é abdicar de princípios base, da coragem que deve ter quem governa. Diálogo é ter a capacidade de ouvir, a capacidade de mudar de opinião, de acolher as propostas justas que nos são apresentadas mas sem abdicar, qualquer que seja a circunstância, do sentido de justiça e daquilo em que acreditamos e consideramos necessário implementar para alcançar o bem comum.
Tenho que te responder, Francisco, mas isso precisa de mais tempo do que o que tenho hoje já que é necessário reflectir cuidadosamente sobre o que dizes. Deixa-me dizer-te, contudo, que seja qual for a forma como definas «diálogo», o conceito não era conhecido no Ministério da Educação de Maria de Lurdes Rodrigues. E ainda que, pelo menos agora, bom acordo ou mau acordo, podemos, como disse Isabel Alçada, consagrar-nos ao que interessa: educar as crianças e os jovens que estão no sistema de ensino que temos - o que deveria ter sido, sempre, a nossa principal preocupação.
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