Un homme est mort - Philippe Séguin (21 de Abril de 1943 - 7 de Janeiro de 2010)
Admiro os homens que se fazem notar pela sua independência e por profundas convicções, de uma têmpera que os torna incapazes de se dissolverem na mesquinhez do quotidiano. Philippe Séguin, homem político francês de que a maioria dos portugueses pouco deve ter ouvido falar, fazia parte dessa raça. Que importa que fosse gaulista, que tenha apoiado Chirac, ou mesmo que fosse amigo de Sarkozy? Era um homem que encarnava uma ideia, uma concepção, da França, principalmente, de la République, da política, da Europa – as suas dúvidas sobre o caminho tecnocrático actualmente seguido pela União Europeia obrigavam-nos a ouvi-lo com intensa atenção. Era de direita? Provavelmente, sim; votaria gaulista e não socialista. Mas que interesse tem isso perante uma personalidade maior do que a vida, conhecido pelas suas zangas monumentais, pelas suas emoções à flor da pele; célebre, afinal, por ser homem e não um boneco de palha, um mero espantalho plantado na seara dos pobres homens políticos que o rodearam.
A sua morte deixou-me profundamente comovido. Não o conhecia, claro; mas acompanhei, de longe, a sua carreira política e pessoal. Nascido na Tunísia, órfão muito cedo dum pai herói da II Guerra Mundial (a quem foi conferida, a título póstumo, uma alta condecoração francesa mas não a Légion d’honneur, o que levou Séguin a recusá-la quando pretenderam atribuir-lha, porque considerava que tudo o que tinha feito não se comparava ao sacrifício do seu Pai), era um filho da República, pupilo da Nação, que, neste aspecto, e até pelos seus afecto mediterrânicos, lembrava Albert Camus. Com os seus mais de cem quilos, fumador inveterado, amante da boa comida e, presumo, da boa bebida, Séguin impressionava pela sua inteligência e, sobretudo, pela sua convicção. Dizem que Mitterrand o admirava já antes do célebre debate que os opôs a propósito do Tratado de Maastricht. É natural. Um homem como Séguin tinha essa capacidade de ser tão admirado pelos seus opositores como pelos seus comparsas.
Un homme est mort... Quer dizer: un vrai... Quando isso acontece, a resposta é um silêncio comovido, uma homenagem contida, aquela que ele, que era contudo dado a excessos e a desmesuras, afinal merece.
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