sábado, 13 de março de 2010

Saída de cena ingloriosa

Manuela Ferreira Leite fez o seu último discurso como Presidente do PSD. Sai como entrou: sem graça e sem garra; e brindou-nos, com certeza de forma inconsciente, com uma confissão desconcertante.

Com efeito, será que Ferreira Leite não compreende que, ao afirmar que, em Setembro, tinha razão contra José Sócrates nas eleições, e que o que aconteceu desde então apenas veio confirmar esse facto, se acusa e condena duma assentada? Com efeito, perder sem razão teria sido mau, face a um PS cansado e a um Primeiro-Ministro altivo e emproado. Perder com razão é ainda pior. Tanto, que, se a mensagem não estava errada, a derrota só pode ser explicada pelos defeitos da mensageira.

Tivesse Ferreira Leite mantido alguma coerência no discurso e podia o PSD estar hoje a dirigir o Governo; mas a senhora decidiu matraquear as nossas pobres cabeças com a teoria da asfixia democrática e foi o que se viu. Ninguém, na verdade, acreditou que o país estava à beira dum regime autoritário e antidemocrático; não só o PS é ainda, em Portugal, uma referência de liberdade, como a presença, em Belém, de Cavaco Silva, chegaria para desmentir essa possibilidade. Como uma andorinha não faz a Primavera, um Primeiro-Ministro arrogante não destrói a democracia. Será necessário lembrar que Cavaco, quando foi chefe do Governo, também não primou por especial modéstia e contenção? Estará esquecida a célebre frase do "nunca me engano e raramente tenho dúvidas"?

(Aliás, a incoerência continua: ao mesmo tempo que qualifica o Programa de Estabilidade e Crescimento de Programa de Estagnação, Ferreira Leite afirma que o vai aceitar. Razão: o interesse nacional, claro; ou melhor, a necessidade de agradar a Bruxelas e aos mercados internacionais. Mas fica por explicar como pode um tal plano – de estagnação, nem mais – satisfazer o interesse nacional. Nesse aspecto, o discurso de Passos Coelho é – por uma vez – bem mais consequente.)

Manuela Ferreira Leite bem pode repetir que tinha razão em Setembro. Mas isso mesmo prova que não dispunha das qualidades necessárias para ocupar o lugar de Presidente de um partido político (cuja principal obrigação é, lembre-se, ganhar eleições e não lamentar-se sobre o desnorte dos eleitores) e, muito menos, de Primeira-Ministra. Aliás, os seus resultados pessoais nas sondagens recentemente publicadas provam-no bem. Os portugueses não acreditam em Sócrates; mas preferem-no, e de longe, à dama do PSD. E não são os portugueses que estão enganados.