quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Demitido Director do Museu Nacional de Arte Antiga

Estou à vontade para falar porque não conheço Paulo Henriques, ontem afastado do cargo de Director do Museu Nacional de Arte Antigo onde, como toda a gente sabe, se encontram os célebres Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, cuja imagem escolhi para ilustrar este texto. Ainda mais à vontade quanto é certo que o seu provável substituto, António Pimentel, actual director do Museu Grão Vasco, de Viseu, é unanimemente considerado, incluindo pelo próprio Paulo Henriques, como pessoa bastante competente. Mas a notícia, tal como dada, desperta-me dois comentários:

1. Ao que parece, a Ministra procura um "gestor". Paulo Henriques é gestor de museus desde 1992 e tem feito um bom trabalho pelos vários museus por que passou. (O mesmo se pode dizer do seu substituto: gestor de museus com provas dadas). Assim, coloca-se a questão: afinal, de que gestor anda a Ministra à procura? Dum gestor de mercearias? De supermercados? De centros comerciais?

2. Não será que o que está em causa é simplesmente o modo de financiamento das instituições culturais, e dos museus em particular, no nosso país? Pretende-se alguém que venha para a rua à procura de subsídios do sector privado, de mecenas? Atenção! Os milionários americanos dão dinheiro para actividades de beneficência e sustentam entidades como orquestras, museus ou bibliotecas públicas. Lamento dizer que, em Portugal, não existe essa tradição. Os nossos milionários têm tendência a guardar o dinheiro com eles ou, quando muito, a suportarem alguns custos de programas de televisão dirigidos ao grande público.

O risco destas aventuras é que se percam os subsídios públicos sem ganhar capitais privados. E então, aqui d'el Rei... O futuro dos museus em Portugal pode vir depressa a assemelhar-se ao das suas orquestras – que praticamente deixaram de existir.