domingo, 17 de janeiro de 2010

A candidatura presidencial de Manuel Alegre

Escutar sem rir alguns dos comentários que acolheram o anúncio da disponibilidade de Manuel Alegre de se candidatar à Presidência da República, em que se multiplicam alguns notáveis socialistas – expressando dúvidas sobre o apoio do Partido ou considerando que é ainda cedo para o expressar – ultrapassa as minhas capacidades. Pelo contrário, sinto vontade de soltar soltas e ruidosas gargalhadas. Parece que aquelas personalidades estimáveis ainda não compreenderam que o mundo, asterixticamente, lhes caiu sobre a cabeça. Não resta ao Partido Socialista outra possibilidade que não seja a de apoiar Manuel Alegre. Ninguém se prestará a repetir o papel de Mário Soares em 2006: a humilhação foi grande demais. Por isso mesmo, Alegre não se enganou, nem se precipitou, ao anunciar cedo a sua intenção. Trata-se simplesmente de uma forma de marcar terreno e de impedir o aparecimento de outros candidatos. Exemplo de boa política, a recordar atitude idêntica de Jorge Sampaio em 1995, na perspectiva das eleições do ano seguinte. Pode o PS ficar desiludido e Sócrates enervado; mas não conseguirão barrar o percurso de Alegre – e o melhor, para eles, é que nem tentem. As eleições do ano que vem oporão Cavaco Silva e Manuel Alegre. Com a quase certeza, de que, desta vez, pelo menos, haverá combate.

1 Comments:

Blogger francisco pessoa e costa said...

Meu querido Zé Pedro, eu não sei se Manuel Alegre se enganou ou precipitou no anúncio da sua candidatura a Belém mas, isso sei muito bem, eu não me vou enganar e muito menos precipitar e, por isso, não vou votar em Manuel Alegre.

Dito isto e acrescentado que, por incrível que pareça, por um breve segundo tive a tentação de me decidir a seguir o gesto de Álvaro Cunhal, tapar os olhos e votar Aníbal Cavaco Silva, o que só demonstra o desespero a que uma pessoa como eu pode chegar, espero que o PS apresente uma candidatura alternativa, mesmo que correndo o risco de ser humilhado, permitindo assim uma opção de voto aqueles que, acreditando nos valores de esquerda e defendendo as suas opções políticas, não merecem ficar perante tão desesperante situação de ter de escolher entre Cavaco Silva e Manuel Alegre.

Em política a humilhação não é necessariamente um defeito, para mais se for consequência da defesa daquilo em que acreditamos, se for resultado dum acto coerente com o que temos defendido e, na verdade, hoje, Manuel Alegre não pode ser a escolha do PS como candidato a Presidente da Republica, não apenas porque a distância ideológica que separa Manuel Alegre e o PS é demasiado grande para ser ultrapassada em nome da necessidade da esquerda (mas que esquerda?) ganhar eleições mas porque, Manuel Alegre e o PS actual não partilham as mesmas ideias sobre questões fundamentais para o desenvolvimento da sociedade portuguesa.

Tenho a convicção profunda que o PS não me irá colocar na posição incómoda de escolher entre dois candidatos para mim impossíveis, não apoiando um candidato que representa tudo aquilo que eu não consigo compreender na política como na vida, alguém que sempre viveu no sistema, do sistema, mas que o ataca e renega como se nunca para ele tivesse contribuído nem nunca dele tivesse usufruído.

Chama-se isso, na gíria popular, cão que não conhece o dono.

29 janeiro, 2010 10:30  

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