Crespo, Sócrates, e o disparate
Esta história de Mário Crespo, a propósito de o Primeiro-Ministro, num almoço com dois ministros, perto de um administrador/director de televisão, ter alegadamente considerado que ele, Crespo, era, para além de um problema médico, um "problema a resolver", soa-me a história mafiosa com mau argumento. E isto por várias razões, a começar pelo facto de o tal administrador – ou director – de televisão já ter vindo dizer que as coisas não se passaram exactamente como é alegado.
Deixem-me começar por dizer que fiquei contente por ter visto num jornal, ontem, que o famoso almoço se teria realizado na terça-feira da semana passada. E, hoje, que tudo se passava no restaurante do Hotel Tivoli, em Lisboa. Assim, pelo menos, podemos facilmente saber se o Primeiro-Ministro estava, de facto, nesse restaurante e a almoçar com aquelas pessoas. E se Bárbara Guimarães e Nuno Santos se encontravam lá também; e se Sócrates, ao cumprimentar Bárbara Guimarães, terá mesmo repetido a Nuno Santos que Crespo era o tal problema à procura de solução.
Devo dizer que acho tudo isto uma palhaçada. Não uma "calhandrice", no sentido de bisbilhotice ou coscuvilhice, como disse oficiosamente o gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares, porque o termo, embora bonito, parece não existir (pelo menos, no Dicionário da Porto Editora). Mas tenho alguma dificuldade em acreditar que Sócrates fosse tão estúpido. Estúpido a ponto de falar destas questões, em voz alta, num restaurante; mais estúpido ainda por se ter dirigido a Nuno Santos, comentando as acções e opiniões de um jornalista da SIC. Desculpem. Custa a crer. Ou então, andamos todos doidos. Seria bom que Nuno Santos explicasse por que é que a conversa não se desenrolou nos termos referidos por Mário Crespo.
Quanto ao facto de o Jornal de Notícias não ter publicado o artigo deste jornalista, o que podia fazer o director do jornal? Dizer que o artigo era um artigo de opinião é argumento que nem sequer o mais reles papalvo pode aceitar. Quando, numa peça jornalística, se acusa o Primeiro-Ministro de ter dito qualquer coisa difamatória, num local e numa data precisa, estamos perante tudo salvo um artigo de opinião. O director do jornal tem obrigação de se assegurar de que as informações publicadas são exactas; e até o dever de confrontar o acusado com os factos que lhe são imputados e dar-lhe o direito de apresentar a sua versão. A reacção de Mário Crespo – a demissão – é absolutamente incompreensível, para mais vinda dum jornalista com uma prestigiada carreira profissional, que deve saber distinguir entre as suas opiniões e factos que se imputam a outras pessoas.
Mário Crespo vem hoje acrescentar que, entre os "problemas" a resolver, também se encontrava Medina Carreira. Por amor de Deus! Medina Carreira anda a dizer o que diz há mais de vinte anos. Até Sócrates sabe que daí não vem mal ao Governo, ao país ou ao mundo. (E, mesmo que viesse, há problemas que não têm solução). Eu tenho uma certa admiração pelo Medina Carreira dos primeiros tempos; mas a sua posição constantemente negativa começa a enjoar-me. Quando ele fala, já sabemos o que vai dizer: que isto é tudo uma cambada. Faz lembrar o Herman José e o Estebes...
Enfim, quem acusa deve provar. O ónus da prova recai, neste caso, inteiramente sobre Mário Crespo. Estamos à espera. Se as provas não forem sólidas, a sua reputação ficaria certamente arruinada, se isto não fosse um país de brandos costumes, sempre pronto a desculpar quem diz o que nos interessa independentemente da verdade. Deve ser por isso que Crespo discursou num encontro do CDS-PP, onde devia falar de Obama e falou de si próprio, durante mais de meia hora. E que o seu artigo foi publicado num site ligado a um instituto do PSD. Demasiadas coincidências... E disparates.
1 Comments:
Olá meu querido.
Vejo que voltaste a escrever o que me agrada bastante.
Se puderes lê a entrevista do Medina Carreira ao CM. É o exemplo acabado do que mencionas, do mal dizer constante, da falta de qualquer idéia de um suposto economista.
Bj
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