O inefável PPC
Ouvi, embora sem poder reprimir incontroláveis bocejos, a entrevista de Pedro Passos Coelho por Judite de Sousa, ontem, na RTP1. A entrevistadora não ajudou. O seu empenho em discutir as opiniões de Passos Coelho sobre algumas personalidades do PSD (Marcelo, principalmente) e José Sócrates não criou um ambiente propício a uma discussão de ideias ou projectos. Mas talvez, bem vistas as coisas, isso tenha sido um bem para o candidato porque, em nenhum momento da entrevista, Passos Coelho mostrou ter umas ou outros. Digo bem: nem uma breve chispa, uma faísca, um momento de vivacidade. Nenhum desígnio, nenhuma concepção, para o país, para além da estafada referência à necessidade de encontrar uma alternativa não socialista ao governo de Sócrates. Foi obra! Cinquenta minutos de vácuo.
Surpreendente? Claro que não. Afinal, o que se esperava? Que Passos viesse mostrar uma profundidade que lhe é, obvia e, desde ontem, comprovadamente, alheia? As pessoas não se transformam em dias, semanas ou meses. Com uma certeza fiquei: se já não tinha a intenção de comprar o seu livro (Mudar. Segundo o candidato, citado pelo Público, uma análise do país e um farol – nada menos – para o partido. Mas já o título revela uma comovente originalidade), agora sei que guardarei esse dinheiro para algo mais útil – ou seja, qualquer outra coisa.
Só me espanta que pessoas como Coelho acreditem que têm um destino nacional. Como lhe terá vindo essa ideia? De manhã, diante do espelho, ao fazer a barba? Se for isso, recomendo-lhe a leitura da Branca de Neve.
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