sábado, 20 de junho de 2009

Irão

Ninguém sabe bem o que aconteceu. É provável, mas longe de estar provado, que o Presidente Ahmadinejad tenha ganho as eleições. Normalmente, a forma que o regime tem de assegurar a sua continuidade é impedir certos candidatos de concorrerem ao voto e não de falsificar os resultados. Mas nunca se sabe. Talvez, este ano, os ayatollahs tenham compreendido que o jogo tinha acabado...

A verdade é que assistimos a levantamentos populares que não aconteceram desde a revolução que acabou com o regime do Xá e criou a República Islâmica. Em suma, alguma coisa de novo se passa no Irão. Numa palavra: a juventude iraniana está farta dum regime que, internamente, a impede de viver em liberdade e que, externamente, se enrodilha em conflitos sucessivos que podem pôr em causa a capacidade do país de se afirmar como potência regional. Os chamados reformadores, com efeito, mais não pretendem do que assegurar a relevância do Irão no Mádio Oriente, como único adversário credível de Israel. Discordam do actual Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, sobre os meios utilizados: a sua retórica anti-judaica e anti-americana parece-lhes prejudicar esse objectivo.

O apoio a Ahmadinejad vem das camadas rurais e dos estratos mais conservadores da sociedade iraniana. Resta saber o que decidirão os ayatollahs. Por que é na chamada Assembleia dos Peritos, uma espécie de Conselho Islâmico presidido por Rafsandjani, adversário feroz do Presidente que o derrotou nas últimas eleições e o acusou de corrupção nestas, que tudo se decidirá.

As pessoas que olham para o Médio-Oriente sob a perspectiva enviesada do Estado Judaico não compreendam a necessidade de um Irão forte agora que o Iraque deixou praticamente de existir. A culpa é de George Bush: ninguém, como ele, deixou crescer o poder xiita naquela região, resultado claro da estúpida invasão do Iraque, para além do mais sob pretextos mentirosos. Mas é por isso mesmo que a vitória das forças anti-conservadoras, de Moussavi e dos seus aliados, é fundamental. Os iranianos teriam interesse em entender isto. Mas, se continuarem dominados por uma clique religiosa cujo único objectivo é manter-se no poder, é pouco provável que tragam soluções para os problemas em causa.