Presidência Portuguesa
Ontem, diante do Parlamento Europeu, José Sócrates elogiou-se a si mesmo e à Presidência portuguesa. Um cocktail em Bruxelas, esta tarde, reúne a Representação Permanente e a maioria dos funcionários do Conselho e da Comissão. Não vou. Já há muitos anos que me recuso a ir a este tipo de «eventos» e não é com este que vou recomeçar.
Dito isto, a Presidência não foi um fracasso – longe disso. Ficará, para o bem e para o mal, inevitavelmente ligada ao Tratado de Lisboa. Contudo, a recusa de referendar o Tratado, que não se limita, é evidente, ao Governo português (um dos poucos que, pelo menos em público, ainda não definiu a sua posição), será paga mais tarde – com juros. Não é possível continuar a avançar nesta via de «closer and closer Union», que agora nem sequer é bem isso porque a cada passo no sentido da integração se juntam cláusulas de compromisso e «opt-outs», sem aferir o que pensam os povos da Europa. Quanto mais avança num certo sentido que, ao que parece, se encontra pré-definido, de menos legitimidade dispõe o projecto europeu. Tudo o resto é argumento de tecnocrata. E, por uma vez, e com muita pena, tenho que juntar Vital Moreira a esta equipa, quando sustenta que o Tratado não deve ser referendado por ser demasiado complicado. Está assim encontrado o caminho perfeito de mais e mais Europa: fazer tratados de tal forma difíceis de ler ou compreender que se possa sempre argumentar que os povos não devem ser chamados a pronunciar-se sobre eles por serem incapazes de os perceber. Será que esta gente se esquece que o despotismo iluminado não foi um sucesso, nem mesmo no século XVIII?