sábado, 26 de abril de 2008

A crise no PSD



















Um amigo perguntou-me porque não tinha ainda escrito neste blogue sobre a crise no PPD/PSD. Mas o que há a dizer? Tudo aquilo sabe a disparate... Manuela Ferreira Leite será certamente uma melhor Presidente do que Luís Filipe Menezes mas o problema do partido vai muito para além destas mudanças de cadeiras. Por isso nada direi, a menos que uma vaga de fundo, melhor dizendo um tsunami, vindo da Madeira leve Alberto João Jardim a candidatar-se e a ganhar. Nesse caso, sim, o PSD mereceria comentário: em forma de epitáfio.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

José Manuel Fernandes e o nível inaceitável do disparate
















Do editorial, assinado por José Manuel Fernandes, na edição do Público de hoje:

«Há dias que uma dúvida necessitava de ser esclarecida: a nova ministra da Defesa espanhola, Carme Chacón, cuja foto a revistar tropas grávida de sete meses correu mundo, ocupa o lugar que ocupa por mérito ou por propaganda? Por outras palavras: se não fosse mulher nem estivesse grávida, seria ela a primeira escolha para aquele lugar?
É óbvio que o ineditismo da situação nos faz simpatizar de imediato com a figura, antes de todo desconhecida, pelo menos fora de Espanha. Soube-se agora que uma das suas primeiras medidas foi tratar de barrar o acesso dos militares na Internet aos sites dos jornais desportivos e de uma revista erótica, em nome do "congestionamento do tráfego" nas linhas dos quartéis. Talvez a ministra não goste de desporto e admite-se que entenda serem as mulheres que posam para as revistas masculinas reduzidas à condição de "mulheres objecto". É natural e até compreensível. O que já não se compreende é que não tenha entendido que com uma medida que pouco tem a ver com política de defesa, antes revela uma outra agenda política, a sua celebrada fotografia também se podia transformar, como alguns blogues portugueses notaram, na foto de uma "mulher objecto". Não "objecto sexual" no sentido tradicional do termo, mas "objecto sexual" em nome de uma determinada agenda política.
Não sei se Carme Chacón, seguindo por este caminho, não fará pior à causa da participação política das mulheres do que se tivesse recusado um cargo para o qual nada no seu currículo profissional e político indicava que fosse a mais indicada, isto é, a que tivesse mais mérito para estar onde está.
»

Comentário:

Quando às vezes leio alguns editoriais de José Manuel Fernandes, pergunto-me como uma pessoa supostamente inteligente consegue alinhar tantos disparates seguidos. Resta-me a consolação que isso me dá azo a criticá-lo neste blogue obrigando-me, assim, a uma actividade intelectual mais estimulante do que a de distribuir (por via electrónica) os documentos preparados pelo Comité das Regiões ou pelo Comité Económico e Social pelos diferentes serviços da Comissão.

O texto que transcrevi é uma vergonha. Para informação do leitor distraído, Carme Chacón já foi Vice-Presidente do Congresso dos Deputados e ministra da Habitação. Foi chefe de lista do PSOE em Barcelona e conseguiu um aumento de votos para este partido nas últimas eleições legislativas. É uma personalidade política conhecida em Espanha e eu, que acompanhei, no El Pais, a composição do Governo espanhol não encontrei nenhuma crítica especialmente dirigida contra esta escolha de José Luís Zapatero, nem sequer vinda dos sectores ligados ao Partido Popular. Quanto ao facto de ela ser pouco conhecida fora de Espanha, poderá perguntar-se se, antes da sua nomeação (ou mesmo depois), Nuno Severiano Teixeira seria muito conhecido fora de Portugal! Para além disso, a escolha da ministra da Defesa é da responsabilidade do chefe do governo, que ganhou as eleições (já agora, com um executivo composto de oito mulheres em dezasseis membros, proporção que agora aumentou para nove em dezasseis) e tem mandato para escolher os ministros que considerar mais adequados.

José Manuel Fernandes tem todo o direito de contestar a decisão da ministra da Defesa espanhola de proibir o acesso dos militares, através dos computadores instalados nos quartéis, aos sites dos jornais desportivos e a uma revista erótica ou pornográfica. No primeiro caso, concordo que pode tratar-se duma proibição exagerada; já no segundo, tenho bastantes dúvidas que militares ou quaisquer empregados por conta de outrem se sintam autorizados a consultar sites eróticos ou pornográficos nos computadores das suas entidades patronais. Em nada me choca o facto de visitarem esses sites mas parece-me preferível que o façam em casa nos seus computadores pessoais. Eu, na Comissão, não me atreveria a tanto: nem sequer por medo de represálias mas por simples questão de decoro. Consideraria extremamente humilhante que o chefe da secção informática entrasse no meu escritório, com cara de caso, vagamente comprometido, para me lembrar que os computadores da Comissão não deveriam ser usados para tais fins. Aliás, aqui há algum tempo, creio ter lido uma notícia segundo a qual certos sites deste género seriam interditos aos deputados da Assembleia da República através dos computadores do Parlamento – e não me conta que isso tenha preocupado José Manuel Fernandes. Pergunto-me, aliás, se os jornalistas do Público têm direito a consultá-los nos computadores do jornal.

Em qualquer caso, o que José Manuel Fernandes não pode fazer é criticar essa medida por ela constituir, a seu ver, um indício de uma escondida agenda política da ministra: já agora, qual? (Desmoralizar os militares? Contribuir para a derrota das equipas espanholas nas competições europeias? Impedir a publicidade a revistas pornográficas?) E perde a cabeça ao considerar que a imagem que juntei a este artigo pode transformar Carme Chacón numa espécie de «objecto sexual», embora o pudor o tenha aconselhado a acrescentar que se tratava dum objecto sexual de características novas e pouco conhecidas: um «objecto sexual» ao serviço da tal agenda política (escondida). A verdade é que o facto de Carme Chacón revistar as tropas quando está grávida de sete meses é dificilmente evitável. Afinal, ela é ministra da Defesa e por isso deve revistar as tropas; e está mesmo grávida de sete meses: não se trata de uma almofada na barriga. A menos que José Manuel Fernandes pretenda que ela acelere o nascimento da criança para fugir destas situações, não se vê como podia a Ministra evitar estas fotografias. Seria como criticar a Ministra (ou um Ministro) por ser gorda, ou magra, ou alta, ou baixa…

Mas o que mais impressiona no texto de José Manuel Fernandes é mesmo o último parágrafo. Claro: Carme Chacón deveria ter recusado o cargo de ministra da Defesa! Estou de acordo. Em primeiro lugar, é quase imoral ver mulheres a tratar com militares. Em segundo lugar, o melhor mesmo seria que ela tivesse ficado em casa, que nunca tivesse feito política e que se dedicasse a cuidar do bebé que vai nascer… E, escândalo ainda maior, é possível que, depois do parto, a ministra queira beneficiar duma licença de maternidade… Ao que nós chegámos! É certo e seguro que a defesa de Espanha ficará altamente comprometida.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Em Praga, bem-comportada, a passear com o Pai

Outra ainda.

Em Praga, a brincar com um chequinho

Outra fotografia de avô babado...

Em Praga, de mãos nos bolsos

Regressada de Praga, a minha neta anda agora frequentemente de mãos nos bolsos: deve ter aprendido com o Pai. Aqui fica esta fotografia de avô babado, com pena que não apareça nenhuma em que estejam todos juntos. Calculo que nem Mãe nem Pai se tenham disposto a pedir a um transeunte qualquer que tirasse uma fotografia do casal e criança. Timidez!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Jornalistas e (falta de) cultura

Estas coisas parecem não ter importância mas dão bem a ideia do saber histórico e nível cultural de alguns dos nossos jornalistas. Numa notícia a propósito das recentes declarações de Jaime Gama, de elogio a Alberto João Jardim (que nos levam a pensar que o Presidente do Parlamento não devia estar em momento feliz porque uma coisa é reconhecer o progresso económico da Madeira nos últimos trinta anos e outra é passar em claro a forma autoritária e discriminatória como Jardim tem exercido o poder), diz o Diário de Notícias:

«O líder parlamentar do PS/Açores considerou ontem que os elogios "foram uma romagem humilhante de um alto responsável de Estado". Francisco Coelho sustentou que foi "uma desconsideração desnecessária aos socialistas e democratas da Região Autónoma da Madeira". "Foi como uma romagem a Canossa", sublinhou, ironizando com a vassalagem de Frederico I (Barba Ruiva) ao Papa na cidade de Canossa, em 1070.»

Ora, acontece que a viagem a Canossa nada tem a ver com Frederico Barba Ruiva (que, tendo nascido em 1122 dificilmente se poderia ter deslocado, em 1077, a 28 de Janeiro, para ser mais preciso – e não em 1070, outro erro do artigo – a qualquer lado que fosse) mas com o imperador Henrique IV. Foi uma verdadeira humilhação para o Imperador que tinha sido excomungado por Gregório VII em 1076. «Devant les remparts, pieds nus dans la neige et vêtu seulement d’une cotte de laine comme un pénitent, le roi Henri attend trois jours et trois nuits dans le froid. Jamais un roi ne s’était à tel point humilié. Mais son stratagème réussit, en apparence du moins : Grégoire VII n’eut d’autre choix, le 28 janvier 1077, que d’accueillir le pénitent repenti dans le giron de l’Église – le risque que le roi fût déposé était pour l’instant écarté.»

Um pouco de cultura não lhes faria mal! Mas seria interessante, embora pouco provável, ver Jaime Gama diante dos socialistas madeirenses e açorianos, no Funchal ou em Ponta Delgada, ou, para manter a semelhança com Canossa, no topo do Pico, de pés nus (ou em havaianas) e vestido com uma simples camisola de manga curta e uns calções até ao joelho, tremendo de frio, humilhado e forçado a pedir perdão pelas suas infelizes declarações.

(O quadro é de Eduard Schwoiser, 1862)