De volta? Talvez...
Há muito tempo que tento escrever neste blogue mas, francamente, tem-me faltado a vontade. Estou em fase de me fechar um pouco dentro de mim; os meus contactos com o mundo exterior reduzem-se à família (sobretudo às minhas netas, ambas aqui ao lado, a Xá, que continua a mais querida menina do mundo, e a Constança, calma, terna e risonha) e a pouco mais (desculpa, Carlos, os almoços anulados). Mas estas dificuldades passam, o Verão aproxima-se e, mesmo se apenas partirei para Portugal no final de Agosto, o tempo bonito, os dias de sol, os jardins de Bruxelas que começam a encher-se de gente nova e velha, tudo isso nos retempera o corpo e a alma.
E há tanta coisa de que falar! Para só dar alguns exemplos, a crise da Igreja, depois dos escândalos da pedofilia, a crise económica e financeira na Grécia, em Portugal e na Europa (esperemos que não rebentem a Espanha e, sobretudo, a Itália, que me parece o elo mais fraco de toda esta corrente, embora pouco se fale dela actualmente – a sua dívida pública é proporcionalmente quase idêntica à da Grécia, embora o défice orçamental seja substancialmente menor – a acreditarmos nas estatísticas oficiais), com este inexplicável atraso alemão de vir em socorro da economia helénica que, de forma certa ou errada, faz hoje parte da zona euro (e dizer, como Merkel, que não devia ter sido aceite é chorar sobre leite derramado). Aliás, Angela Merkel mostrou, na gestão desta crise, uma faceta provinciana que me surpreendeu, a mim que a considerava como uma mulher política de certa qualidade – embora provavelmente tudo isso se deva a mera minha distracção no sentido de que não foi ela que mudou mas sim que o que existiu for um erro na minha percepção das coisas.
Também a Igreja tem reagido de forma no mínimo incoerente aos casos de pedofilia que põem em causa sacerdotes católicos. Digo a Igreja e não, propositadamente, o Papa. A Bento XVI pode apontar-se que não tem se tem pronunciado sobre tais actos tão frequentemente como lhe seria exigível; mas deve reconhecer-se que, cada vez que o faz, o faz de forma inequívoca e não pode ler-se nas suas palavras senão uma incondicional condenação dos abusos dos seus clérigos. As dificuldades, para a Igreja são, contudo, muito mais graves – e até baixamente materiais, já que não é de excluir a possibilidade de pedidos de indemnização ruinosos, nomeadamente nos tribunais norte-americanos . Mas é claro que o problema principal, como parecem começar a reconhecer alguns dos seus responsáveis, é que uma entidade que pretende arvorar-se como árbitra moral do mundo e das gentes pode dificilmente conviver com este tipo de situações. E é por isso que as posições de algumas gentes de direita (oh! esta questão é bem a prova de que há diferenças entre a direita e a esquerda), argumentando que os padres não são mais pedófilos do que o resto das gentes (o que é verdade, embora, por razões de magistério moral e autoridade, a sua posição não seja equiparável ao comum dos mortais!) não têm qualquer relevância. Com efeito, a Igreja Católica não pode pretender que lhe sejam aplicáveis os mesmos critérios, eventualmente mais laxistas, que se aplicam a outras instituições; ao fazê-lo, estaria simplesmente a colocar-se a um nível que tem ela mesma que recusar. Porque, do seu próprio ponto de vista, ela é uma instituição diferente. As crónicas de António Marujo, no Público, são exemplares a este respeito. É pena que não sejam lidas atentamente, não obstante os protestos contrários, pelos restantes colunistas do mesmo jornal, como José Manuel Fernandes ou Helena Matos.
Ao mesmo tempo, e em termos pessoais, gostaria de lembrar que a Trezzu foi aceite no programa Erasmus, e na sua primeira escolha, na Universidade de Bolonha, a mais antiga Universidade europeia e aquela de onde partiu a recepção medieval do direito romano, que conduziu ao reforço da autoridade real e, por esta via, segundo alguns, à construção do Estado moderno. Partirá no próximo semestre. Quanto ao Dico, fala-se de que poderá partir para a Suíça ou para Haia, para os seus estudos de hotelaria e turismo. A Inês está em fase de transição e espera-se que tudo se passe pelo melhor; e a Sofia anda bem, embora preocupada com um futuro que se equilibra entre Paris e, distantemente, Lisboa. Para umas e outro, um grande beijinho.
Sem compromisso, esta é uma tentativa de voltar a este convívio. Já agora, mesmo se matematicamente ainda é possível que o Braga ganhe o campeonato, gostaria de deixar os parabéns ao Francisco e ao João pela quase certa vitória do Benfica.