segunda-feira, 12 de outubro de 2009

João César das Neves hoje no Diário de Notícias

Um de nós deve estar doido! Pois não é que dei comigo a concordar com João César das Neves? Não com tudo, felizmente; mas com muito do que ele diz no seu artigo de opinião de hoje, no Diário de Notícias. Com isto, sobretudo, quando fala das razões da mediocridade portuguesa, aqui ilustrada, aliás, por uma personagem bem americana:

«A questão é simplesmente que os portugueses deixaram de olhar para fora. Só contemplam o umbigo. Na ditadura, sonhavam com o império ou melhores dias. Depois, na era da liberdade, Portugal empolgou-se de valores abstractos. Na época do desenvolvimento assustou-se com as ameaças europeias. Até na era da facilidade se embebedou com benefícios do progresso. Agora deixou de ter impérios, ambições, desafios ou sequer desejos. Está mergulhado na intriga, palermice, acanhamento.»

Há muito que ando a dizer precisamente isto. Que, em Portugal, e com duas ou três excepções, não passamos de um paroquialismo tolo, mais preocupados em discutir quem aparece, e quando, nas revistas sociais do que com qualquer projecto, ideia, ambição, programa. Claro que César das Neves aproveita para levar a água ao seu moínho ao dar a José Sócrates o privilégio de encarnar essa face da medicocridade. Podia dizer-que que o recente discurso de Cavaco Silva ao país sobre o caso das escutas a espelha tão bem, ou mesmo, muito melhor. Mas a verdade é que quase todos participamos nessa horrível mania de olharmos apenas, nem sequer para dentro de nós, mas apenas para a nossa cara ou a nossa pele, para o nosso aspecto exterior, convencidos de que conseguiremos disfarçar a terrível pasmaceira da nossa vida colectiva com algum creme anti-rugas ou contra o envelhecimento.

Faço apenas uma observação a César das Neves. O mal não é, infelizmente, só português, embora por aí se tenha difundido com particular virulência. Grande parte da Europa não anda muito melhor. O que era o ideal da construção europeia, o grande projecto de uma união dirigida à paz entre os povos europeus e à sua prosperidade, transformou-se hoje num grande mercado onde se discutem preços e quantidades, lucros e prejuízos. Também a Europa anda virada para o seu próprio umbigo e o ano que aí vem, com as negociatas que inevitavelmente se seguirão à aprovação do Tratado de Lisboa, não augura nada de bom.

sábado, 3 de outubro de 2009

Cidade Maravilhosa

Rio de Janeiro, cidade que só visitei uma vez, cidade que conheço da história do Brasil, cidade que amo pelos poemas de Vinicius e pelas canções de António Carlos Jobim, cidade das obras de piano de Villa-Lobos, cidade da minha juventude quando, nas festas de Carnaval, a cantávamos e dançávamos como se fosse nossa. É esta a cidade que vai receber os Jogos Olímpicos de 2016 e eu estou estranhamente contente com esta escolha.

E aqui fica a Cidade Maravilhosa, de André Filho, que data já de 1935, numa interpretação especial de Caetano Veloso.

http://www.youtube.com/watch?v=GCJVGtQswOw

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Jogos Olímpicos de 2016 - Rio de Janeiro

É difícil, para alguém que como eu acha Brasil um país de eleição e considera o continente sul-americano como um dos espaços mais criativos do mundo actual, não ficar contente com a escolha do Rio de Janeiro para acolher os Jogos Olímpicos de 2016. Mesmo se, a acreditar que ainda estarei vivo e de bom porte nessa altura, a escolha de Madrid, aqui perto, me conviesse mais.

Chicago teve a defender a sua candidatura a personalidade mais importante da cena internacional dos últimos tempos: o próprio Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Madrid teve também o seu campeão. Juan Antonio Saramanch, antigo Presidente do Comité Olímpico e cujo passado franquista é geralmente metido debaixo dum espesso tapete, recordou a sua contribuição para o desenvolvimento dos Jogos que, sob a sua presidência, se transformaram num enorme evento mediático, perdendo mesmo alguma da sua pureza inicial (se se pode chamar puro àquilo que Pierre de Coubertin conseguiu criar – mas, pelo menos, havia uma clara diferença entre amardes e profissionais que se perdeu, sem grandes custos, antes pelo contrário, para a qualidade desportiva dos Jogos, embora abrindo a porta a escândalos duros, como o doping de Ben Johnston numa célebre final dos 100 metros). Os argumentos de Saramanch não foram suficientes.

Lula deu a cara pelo Rio de Janeiro – e a cara de Lula é importante no seu país, no continente sul-americano e no mundo. Está ainda por fazer a história deste homem extraordinário que conseguiu reconciliar o Brasil consigo mesmo e, sobretudo, contribuir para um crescimento económico e uma redução das desigualdades incomparável em qualquer outro país. Por isso, o sucesso do Rio de Janeiro (que continua lindo) é, principalmente, o sucesso de Lula da Silva, homem de origem modesta, sem grande instrução formal mas dotado de uma extraordinária cultura da vida, ex-sindicalista preso durante a ditadura, Presidente de um grande país, e constitui uma notável consagração no termo de uma Presidência que se aproxima do fim e que Lula – honra lhe seja feita – se recusou a prolongar apesar das sondagens que o davam como vencedor certo de qualquer eleição a que se apresentasse.

E, já agora, o poema que creio ser de de Vinicius de Moraes (com música de Band Powell). Se alguém encontrar o video da canção na Internet, mande-me o link para eu o poder pôr aqui no blogue.

O Rio de Janeiro continua sendo…
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo – aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!

Chacrinha continua balançando a pança…
E buzinando a moça e comandando a massa…
E continua dando as ordens no terreiro

Alô, alô, seu Chacrinha – velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho palhaço
Alô, alô, Terezinha – aquele abraço!

Alô, moça da favela – aquele abraço!
Todo mundo da Portela – aquele abraço!
Todo mês de fevereiro – aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema – aquele abraço!

Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu – aquele abraço!
Pra você que meu esqueceu – aquele abraço!

Alô, Rio de Janeiro – aquele abraço!
Todo o povo brasileiro – aquele abraço!
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março…