domingo, 29 de junho de 2008

Espanha campeã

Ganhou o melhor futebol do Euro 2008 (junto com dois jogos da Holanda e outros dois da Rússia). A equipa: Casillas, Sergio Ramos, Puyol, Marchena, Capdevila, Senna, Iniesta, Fabregas, Xavi, Silva e Torres. Como substitutos: Palop, Reina, Albiol, Fernando Navarro, Villa, Santi Cazorla, Alonso, Sergio Garcia, Guiza, Arbeloa, Juanito e De la Red. Seleccionador (o decano dos treinadores do torneio): Luís Aragonés. Um bom jogo, embora não ao nível da meia-final contra a Rússia, com superioridade clara dos espanhóis numa vitória que põe termo a quarenta e quatro anos de frustrações.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Salazar e Bush - A tortura

Segundo nos informa Irene Flunser Pimentel, Prémio Pessoa 2007, na sua magnífica «A História da PIDE» (Círculo de Leitores, 2007), em 1932, numa das suas entrevistas a António Ferro, Salazar foi questionado sobre os possíveis maus tratos que estariam a ser exercidos pela polícia política (naquela altura, a PIM – Polícia Internacional Portuguesa que mais tarde se transformaria na PVDE – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, depois na PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado e, com Marcelo Caetano, professor de direito administrativo preocupado com dar ao aparelho repressivo uma imagem de normalidade, na DGS – Direcção Geral de Segurança). Em resposta., o ditador disse que, depois de um inquérito, se chegara «à conclusão de que as pessoas maltratadas eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas, que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da Polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais». Acrescentou Salazar que «só depois de empregar esses meios violentos» é que eles se decidiam «a dizer a verdader» e perguntou a Ferro «se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzio de safanões a tempo nessas criaturas sinistras».

A propósito da War on Terror e dos meios necessários para a vencer, que diz Bush? Que se trata de perseguir «homens perigosos com um conhecimento único das redes terroristas e os seus planos para novos ataques». A segurança da Nação e as vidas dos cidadãos americanos, acrescenta, depende da nossa capacidade de conhecermos a tempo o que sabem esses terroristas. Assim, precisamos de poder deter, interrogar e, quando necessário, perseguir judicialmente os terroristas capturados na América ou nos campos de batalha espalhados pelo mundo. E o Presidente americano ainda disse, noutra ocasião, que se tratava de homens maus (evil men) , cuja vida não era equivalente à dos cidadãos patriotas e leais. Embora afirmasse (o que é mentira) que os Estados Unidos nunca torturam esses homens, Bush reconheceu que recorriam a métodos alternativos de interrogatório, que eram duros. Soubemos depois que, entre esses métodos, se encontravam a privação do sono e a simulação de afogamentos ou de fuzilamentos.

Les bons esprits…

(Desenho de Fernado Botero)

Espanha - Itália

E gostei que a Espanha tivesse ganho à Itália, prometendo um jogo de ataque na meia-final contra a Rússia (em vez do cinismo defensivo italiano que, uma vez mais, quase os levava à meia-final). A Espanha jogou melhor, criou oportunidades e teria sido uma injustiça se tivesse perdido nas grandes penalidades. Errou o comentador da televisão belga que apostava, desde o início, e com inegável constância, para uma final Alemanha-Itália. Mas provavelmente só se enganou em parte. A Turquia, desfalcada, terá muita dificuldade em vencer uma Alemanha encorajada pela vitória contra Portugal (que os jogadores alemães dizem considerar uma das melhores equipas do mundo - mas presumo que não falam de parte da defesa e do guarda-redes). Por mim, voto Alemanha-Rússia e, entre as duas, nesta última.

domingo, 22 de junho de 2008

Rússia favorita? Pelo menos, a minha favorita

Sim, sim, voto pela Rússia mesmo apesar do Putin e do Abramovich. Há muito tempo que não vejo ninguém (excepto talvez Ronaldo nos seus grandes dias) jogar como Andrei Arshavin. Ontem, contra a Holanda, parecia um dos deuses do Olimpo. Já tinha gostado imenso da exibição da Rússia contra a Suécia e parece-me que, a continuarem a fazer exibições destas, será difícil pará-los. Se a Itália ganhar à Espanha, espero que a Rússia consiga depois desembaraçar-se dos transalpinos que são, contudo, muito perigosos nestas fases dos grandes torneios. Não se trata de escolher entre países mas entre um futebol atacante e lindo e um futebol cínico e eficaz.

sábado, 14 de junho de 2008

Ainda o referendo irlandês


Nada melhor do que esta fotografia para mostrar o estado de dúvida e inquietação em que o resultado do referendo irlandês mergulhou os governantes europeus.

A pouco e pouco vão compreender que o Tratado de Lisboa... morreu.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Referendo irlandês - o não!

O que se passará a seguir? A crer em alguns dirigentes europeus e no Presidente da Comissão, nada. O processo de ratificação continuará nos restantes 26 Estados Membros e espera-se que a Irlanda saia sozinha do imbróglio em que se meteu. Diz-se que a sua posição como país no interior da União Europeia terá que ser revista – uma ameaça velada! E acrescenta-se que um só país não pode impedir que os outros sigam o caminho que consideram melhor para si mesmos e para a União Europeia. Para além do mais com taxas de abstenção superiores a 50 ou 60%.

Mas há limites para o autismo dos homens políticos europeus, Sócrates, Sarkozy, Merkel, Junker incluídos. Um só país não pode bloquear a reforma das instituições? Mas dois (França e Holanda) puderam fazê-lo há muito pouco tempo. O embuste intelectual que constitui o Tratado de Lisboa (que só não é em nome e em poucos artigos a Constituição então repudiada) foi desmascarado. O que resta desta triste quinta-feira é o facto de, no único Estado Membro em que se fez um referendo (e fez-se apenas porque, por imposição constitucional, não podia ser evitado), a população tenha recusado o cozinhado laborioso saído das intermináveis reuniões de peritos, burocratas, ministros e chefes de Estado e de governo. Há que parar um momento (pare, escute, olhe) e, sobretudo, interrogar-nos sobre as razões desta rejeição larvar em relação ao projecto europeu que se exprime através destes votos surpresa. Se não o fizermos, e a tempo, corremos o risco de deitar fora o bebé com a água do banho: de transformar um descontentamento real, mas provavelmente inspirado por razões de curto prazo, numa insatisfação generalizada e duradoura. Porque é tempo de dizer que o rei vai nu. Quem duvida que a maioria dos povos europeus teria também dito não ao tratado se tivesse sido chamada a pronunciar-se sobre ele?

De há muito que, pregando no deserto, venho dizendo que não é desta maneira que se faz progredir a construção europeia. À força de se esquecerem que um projecto desta grandeza deve beneficiar do apoio duma parte importante das populações a que se dirige, os governantes europeus correm de fracasso em fracasso. É certo que as razões deste «não», como dos outros, têm pouco a ver com uma rejeição fundamental da união entre os povos da Europa, embora não devamos esquecer que as novas gerações se sentem já muito longe da Segunda Guerra Mundial e que, para elas, o imperativo da paz europeia cede o passo perante preocupações mais imediatas. Mas é por isso mesmo que devemos esforçar-nos por dar resposta às suas inquietações e despertar nelas esse orgulho de contribuir para o mais largo e duradouro espaço de paz e estabilidade conhecido, não só na história europeia mas na do mundo. O que passa certamente por um novo contrato social, que permita dar esperança aos que não a têm e reduzir drasticamente as desigualdades sociais e os fenómenos de pobreza e precaridade. E passa seguramente por não olhar para o lado e assobiar perante as reacções negativas das populações que tentamos convencer.

Os governantes europeus podem desprezar o voto dos irlandeses. Mas a Europa não pode. Sob pena de deixar de existir.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Afeganistão

Esta fotografia, na sua assustadora simplicidade, mostra (com três excepções) as caras dos cem elementos das forças armadas britânicas que já morreram no Afeganistão. Se juntarmos a estes o muito maior número de vítimas afegãs, militares e, principalmente, civis, e ainda as dos outros exércitos combatentes (um dos quais português, ao que me lembro), ficaremos com uma pequena ideia dos custos desta guerra. Sou daqueles que consideraram justificada a intervenção no Afeganistão (ao contrário da invasão do Iraque) no seguimento dos ataques do 11 de Setembro e com o objectivo de destruir um regime que dava guarida aos principais elementos da Al-Qaeda. Mas, como mais tarde em Bagdad, o mundo e os países invadidos pagaram cara a impreparação dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha para levar a cabo as indispensáveis tarefas de reorganização das nações invadidas. Agora, já há muitos que dizem que mesmo a guerra no Afeganistão está perdida – e que é uma questão de tempo antes de os ocidentais se verem obrigados à retirada, tal como a União Soviética nos últimos tempos do comunismo. Que desperdício, que ficamos a dever, em grande parte, aos amigos Bush e Blair!

domingo, 8 de junho de 2008

Roland Garros - Final masculina

Desta vez, as minhas previsões não falharam: nem quanto ao vencedor, nem quanto à capacidade de Federer de oferecer resposta àquele que os comentadores franceses apelidaram touro ou extraterrestre. Acho que Federer nunca tinha sido derrotado numa final ganhando apenas 4 jogos. E não me lembro também de o ver perder uma partida por 6/0. Resultado final, absolutamente espantoso: 6/1 - 6/3 - 6/0. Quarta vitória consecutiva de Nadal em Roland Garros, igualando o recorde de Borg, que lhe entregou a taça. Continuo sem gostar do homem mas ele não tem concorrentes em terra batida... Enfim, este foi, para mim, um fim de semana desportivo, como comprovam os meus comentários neste blogue!

Portugal 2 - Turquia 0

Gostei do jogo e gostei da equipa portuguesa - mesmo se continuo a não gostar de Scolari. Vitória (mais do que) merecida. Os dois golos foram bonitos, com os passes magníficos de Nuno Gomes para Pepe e de João Moutinho para Raul Meireles. Bom começo: não so a vitória mas o jogo colectivo. Se Ronaldo estiver melhor contra a Checoslováquia, temos a qualificação assegurada. De qualquer modo, mesmo a jogar medianamente (para ele), sempre ocupa dois ou três defesas e deixa espaço para os outros.

sábado, 7 de junho de 2008

Roland Garros - Final feminina

Primeira previsão errada: afinal foi Ana Ivanovic que venceu, sem margem para dúvidas, a final feminina de Roland Garros. Dinara Safina pagou o preço dos dois longos jogos que disputou nos oitavos e quartos de final: notava-se o cansaço que não lhe permitiu dar corpo à sua inegável determinação. Foi no final um jogo menos bonito do que eu esperava.

Já agora, espero também enganar-me no meu prognóstico para a final masculina.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Roland Garros - antes da final

Tive pena que Gaël Monfils (na fotografia) não tenha chegado à final de Roland Garros, até porque Federer me parece distante, desinteressado e incapaz, não só de vencer Rafael Nadal mas mesmo de lhe dar resposta condigna (embora com jogadores desta qualidade nunca se saiba!). Embora continue a não gostar nada de Nadal (irritam-me a sua postura em campo, o seu equipamento e as suas manias - aquela coisa de colocar os objectos que traz consigo, como a garrafa de água e os sacos com precisão cirúrgica, a uma exacta distância uns dos outros, é francamente bizarra), só posso render-me perante a qualidade do seu ténis em terra batida. Basta que a troca de bolas dure mais de seis jogadas para ficarmos com a certeza de que vai ganhar o ponto. A forma como «tece a teia» em que vai enrolar o adversário é pura e simplesmente formidável: quando vem o golpe final da raquete, já este se encontra batido...Na sua meia-final contra Djokovic, apenas ele existiu (excepto por breves momentos no último set em que o sérvio pareceu acordar por breves momentos).

Assim, mais uma final – a terceira em três anos – entre Federer e Nadal e, se não me engano, com o mesmo resultado das outras duas. E estes números inacreditáveis: em Roland Garros, Nadal ganhou 27 partidas e nunca perdeu nenhuma. Ou seja, ganhou o título no primeiro ano em que concorreu e todos os outros que jogou depois. É já um recorde quase impossível de igualar.

No torneio feminino, Dinara Safina despediu em beleza Sharapova e Kuznetsova e defronta Ana Ivanovic. Este, sim, deve ser um jogo formidável. A minha preferida é Safina e é ela também que considero favorita mesmo se Ivanovic ascendeu ontem ao lugar de primeira jogadora mundial.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Barack Obama - O caminho para a Presidência

Que se passará em Novembro? Conseguirá Barack Obama ultrapassar o racismo latente na sociedade americana (ainda assim muito menos pronunciado do que, por exemplo, há vinte ou mesmo dez anos) e ser eleito Presidente? Em seu favor, um discurso novo, qualidades retóricas admiráveis e uma franqueza e convicção que parecem atingir uma grande franja dos independentes que provavelmente decidirão do resultado final; contra, a inexperiência e, até agora, uma certa aura que o tem protegido de ataques negativos mas que acabará quando as coisas começarem a tornar-se sérias (mas é verdade que, nas poucas vezes que foi alvo deste tipo de críticas, se recompôs através de respostas elegantes, virando o feitiço contra o feiticeiro). A eleição dependerá provavelmente, para além da personalidade dos candidatos, da orientação dos americanos face à guerra do Iraque e à crise económica. Preferirão uma mudança de rumo (we can believe in change) ou de mais do mesmo (a safe pair of hands) com, mesmo assim, as inegáveis qualidades pessoais de McCain face a Bush. Creio que Obama parte com vantagem. A sua nomeação como candidato do Partido Democrático é amplamente merecida. Tenho algumas dúvidas sobre as vantagens do chamado dream ticket Obama/Clinton mas, em contrapartida, nenhumas sobre quem teria o meu apoio se fosse americano: quem merece ser eleito Presidente dos Estados Unidos é este homem negro que traz consigo uma enorme esperança.

terça-feira, 3 de junho de 2008

François Fejtö - 31 de Agosto 1909 / 2 de Junho de 2008

O primeiro livro que li sobre os acontecimentos que se seguiram à queda do muro de Berlim e ao fim dos regimes comunistas europeus foi La fin des démocracies populaires de François (Ferencz, como Liszt) Feitjö. A vida de François Feitjö, húngaro de nascimento, acompanhou o século e ele foi, quanto a este, duma coragem e duma lucidez incomparáveis. Era judeu, o que explica, em parte, a sua nostalgia relativamente ao fim do império austro-húngaro, já que considerava que esta estrutura destruída pela Primeira Guerra Mundial, por culpa, aliás, dos Habsburgos, era a a única capaz de acolher o conjunto extremo de nacionalidades que, principalmente através da livre circulação das pessoas e das línguas, encontravam, com maior ou menor dificuldade, a sua casa no império multinacional.

Foi comunista e sofreu a prisão em 1933 durante o regime de Horthy mas a sua ruptura com o comunismo data ainda desta década, do momento em que compreendeu que Staline estava disposto a aliar-se ao nazismo para destruir a social-democracia alemã. Quando chegou o momento do processo de Laszlo Rajk, seu amigo, acusado de titismo e de trotskismo, já não mantinha quaisquer ilusões relativamente ao regime soviético. Sobre este processo, idêntico a tantos outros que se verificaram para lá da Cortina de Ferro, escreve em L’Esprit que se tratava dum caso Dreyfus internacional.

Trabalhando na agência France Press, e como professor convidado em várias universidades, torna-se o especialista reconhecido nas questões da Europa central e oriental, essa Mitteleuropa em que nasceu e passou parte da sua infância. Nos seus últimos anos, vivendo intensamente o fim da divisão europeia e a queda do comunismo, interrogava-se sobre como seria possível refazer o mapa da Europa. Para ele, o único princípio válido seria o da legitimidade e este, actualmente, só poderia apoiar-se sobre a soberania popular e a democracia. Por isso, considerava indispensável a constituição duma grande Confederação Europeia, cujos traços não deixou claramente definidos, onde cada povo encontrasse o seu lugar: uma espécie, parece-me, dum grande império habsburgo mas de carácter democrático, onde todos os povos europeus pudessem conviver e em que se dissolvessem, pela liberdade e respeito pelas tradições e cultura de cada um, as fúrias nacionalistas.

A única vez que voltou à Hungria foi para os funerais nacionais de Imre Nagy, o dirigente da revolta de 1956. Morreu ontem em Paris, aos 98 anos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Bac Party da Trezzu





Tenho estado tão ocupado com estas coisas de arrumar a casa, lavar a roupa e encontrar alguém para vir limpar e passar que quase me esqueci de assinalar a «bac party» da minha filha Teresa – aqui com o seu namorado Mehdi. Ficam prometidas outras fotografias. O vestido da Teresa foi escolhido com as irmãs Sofia e Inês, e parece que teve imenso sucesso. Ela também mas, sem modéstia, isso já eu esperava. Tenho andado muito contente ao ver a minha filha prestes a acabar o secundário. Para o ano, ala para Lisboa e para Direito. Vou ter pena de perder o dia-a-dia do seu empenho, da sua força e da sua tenacidade; e algum alívio por passar a viver de longe a sua teimosia. Je t’aime, Trezzu.