segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Polónia

Ufa! Os gémeos... eram.

Ou, pelo menos, o que era Primeiro-Ministro. O Presidente fica até 2010. Mas a extensão da vitória da Donald Tusk é tal que lhe será difícil fazer muita coisa.

Há um mundo de diferença entre a Plataforma Cívica, de Tusk, e o Partido Lei e Justiça (Que nome! Só faltam ordem e autoridade...) dos gémeos Kaczynskis.

domingo, 21 de outubro de 2007

Fórmula 1

Pena por causa de Lewis Hamilton, vencido pela sua juventude e por uma táctica errada da sua scuderia, mas parabéns a Kimi Raikkonen (nome escrito sem os acentos difíceis da língua finlandesa) que já merecera, noutros anos, ter ganho o campeonato. Hamilton, se tivesse vencido este ano, teria sido o mais jovem campeão de sempre – e o primeiro negro.

Ainda o BCP - Um desenho de Vasco





Sem comentários, mas com a devida reverência ao talento de Vasco.

Em contraponto - África do Sul


















Temos a sorte de dispor de imagens como esta, para colocar ao lado das asneiras de James Watson sobre os negros e verificar a sua inanidade. Comoveu-me ontem esta celebração da vitória da África do Sul na Taça do Mundo de rugby. Para alguém da minha idade, que conheceu o apartheid e se lembra ainda de Nelson Mandela na prisão, esta comunhão entre brancos, mestiços e negros sul-africanos (que não impede nem a discórdia nem a inimizade entre pessoas, porque se trata precisamente de indivíduos que podem ter os seus gostos e desgostos) é especialmente significativa. Talvez a melhor forma de contestar esses disparates sobre a superioridade de certas raças ou a inferioridade de outras.

Um racismo elementar, meu caro Watson

José Manuel Fernandes vem, no editorial do Público de hoje, defender que é inaceitável a decisão de cancelar a conferência de James Watson no Reino-Unido, no seguimento das declarações deste Prémio Nobel sobre uma pretensa menor inteligência dos negros. Não nega que essas declarações constituam um disparate, nem que o cientista tenha usado argumentos deploráveis – como disse um outro cientista, muito crítico em relação a Watson, verdadeiros argumentos de taberna. Mas acha que os que anularam a palestra foram mais longe: não se ficaram pelo disparate, impediram que o debate prosseguisse.

Estou muito contente por poder voltar à minha posição de princípio – que é a de contrariar José Manuel Fernandes, excepto em casos verdadeiramente excepcionais. Gosto francamente de poder discordar dele. Para mim, essas diferenças de opinião confortam-me na ideia de estar ainda lúcido.

Quanto ao triste caso que nos ocupa hoje, será que José Manuel Fernandes não percebeu que o que está em causa não é a posição de Watson – todos temos direito a proferir tolices e a democracia e o liberalismo estão aí (também) para proteger os asnos. O que se passa é que este é um homem com especiais responsabilidades: um cientista de nomeada, Prémio Nobel, com obra reconhecida, prestígio e notoriedade. Exige-se de pessoas na sua posição que pensem antes de falar porque o que dizem será ouvido com reverência. Palavras que poderiam aceitar-se se proferidas por José Manuel Fernandes ou por mim, num círculo restrito de amigos ou à mesa do café, e que dariam apenas lugar às críticas ou comentários do reduzido número de pessoas que as ouviriam e encolheriam os ombros interrogando-se sobre se teríamos enlouquecido, não são admissíveis quando pronunciadas por este homem público numa entrevista pública. A celebridade, a fama, o respeito dos pares, trazem consigo acrescidas responsabilidades.

Ainda podia dizer-se que as declarações de Watson reflectiam uma posição cuidadosamente pensada, baseada em argumentos científicos sérios ou, pelo menos, maduramente ponderados mesmo se errados – e estaríamos no campo da discussão científica, onde o que é hoje considerado asneira pode sempre vir a revelar-se o profícuo caminho do futuro. Mas não foi isso que se passou (como o reconheceu o próprio cientista nas suas atabalhoadas desculpas). Watson disse que os negros eram menos inteligentes do que os brancos, como sabe qualquer patrão que os emprega. Isto não é só uma rematada asneira: não se baseia em coisa nenhuma e é (será necessário lembrá-lo?) particularmente ofensivo. Porque Watson não pode ignorar que os negros, ou afro-americanos, ou africanos, foram, ao longo dos tempos, e em tempos ainda muito próximos, objecto de violência e discriminação, apenas por causa da cor da sua pele. Quando se fala de assuntos sérios, é preciso ser-se sério.

Para além de que a punição não foi particularmente severa: a anulação duma conferência ou a suspensão das actividades do cientista no seu laboratório de origem não se traduzem num castigo infamante ou exagerado. Não se trata de o silenciar, como pretende José Manuel Fernandes, mas apenas de censurar os seus erros. Os erros pagam-se, como costuma dizer-se. O preço nem sequer foi elevado. Nada que se compare ao que sofreram alguns homens por causa das opiniões de que Watson se fez eco.

Escândalo - Dumbledore is gay

Depois das declarações tonitruantes de JK Rowling, segundo as quais Dumbledore, o director de Hogwarts, a escola dos feiticeiros, seria gay, será que vão proibir os livros de Harry Potter (por exemplo, na Polónia dois gémeos Kaczynskis - esperemos aliás que, depois das eleições deste fim-de-semana, os gémeos sejam mandados para casa - ou em certas escolas católicas)?

Como pode essa gente aceitar uma escola dirigida por um homossexual? Pode até tratar-se dum atentado à moral pública e aos bons costumes... Socorro! Socorro! Socorro! Ao que chegou o mundo da feitiçaria!

sábado, 20 de outubro de 2007

Agruras

Depois de ter passado, na terça-feira, duas horas e meia nesta posição, tenho estado em casa em situação de não poder sair à rua não vão as gentes do mundo assustar-se com o inchaço da minha cara. Resta-me a consolação de ter a minha neta ao colo, no preciso momento em que escrevo, às 7 e meia da manhã. Mas é conforto breve porque ela vai esta tarde para Lisboa, com o Pai, para os anos da tia Inês (esperando que venham de volta algumas fotografias como só esta tia sabe tirar!)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Carta aberta ao Presidente do BCP

Senhor Presidente do Conselho de Administração do BCP,

Os signatários foram surpreendidos pelas declarações do Conselho de Administração que V.Exa. dirige, quando um seu porta-voz afirmou, em comentário ao perdão de dívida concedido ao Sr. Filipe Jardim Gonçalves, filho do Presidente do Conselho de Supervisão do BCP, que esse seria o «procedimento normal» para casos deste tipo.

Ora acontece que, no caso dos signatários, tal procedimento «normal» não foi seguido, nem no que respeita à concessão do crédito, nem relativamente à sua cobrança.

Com efeito, na altura da aprovação da decisão de financiamento, foram exigidas dos signatários garantias reais ou pessoais, incluindo mesmo avales prestados pelos seus cônjuges, e isto para operações inteiramente ligadas às suas actividades empresariais. Aliás, conhecendo a actuação da banca comercial no nosso país, não podem os signatários deixar de estranhar que tivessem sido concedidos créditos que atingiram 12 ou 15 milhões de euros a uma empresa que, segundo as notícias vindas a público, possuía um capital social de apenas 55 mil euros. Nem sequer parece que este tipo de acções reflicta uma adequada gestão financeira e, fossem os signatários accionistas ou depositantes do BCP, crêem que teriam o direito de se encontrar legitimamente preocupados.

Na fase de cobrança, o tratamento dos signatários foi, se possível, ainda mais diferente daquele que o Conselho de Administração que V.Exa. dirige considerou «normal»! Muitos dos signatários viram penhorados os seus ordenados e os dos seus cônjuges, outros tantos perderam as casas onde habitavam, quase todos deixaram de poder beneficiar das condições de vida que eram as suas antes da situação de cessação de pagamentos, muitos deles encontram-se em situações de miséria ou de miséria envergonhada. Nenhum deles tem conhecimento de que, alguma vez, o banco tivesse aceite, muito menos proposto, um qualquer perdão de dívida - que abrangesse o capital ou, mesmo apenas, os juros. Antes pelo contrário, viram acrescentar-se à divida juros de mora e comissões várias que apenas contribuíram para tornar mais difícil a sua situação. Na maior parte dos casos, encontram-se em situação de insolvência e, como V.Exa. compreenderá, não dispõem sequer da possibilidade de pedir apoio a pais ou familiares com fortuna pessoal e aviões à disposição.

Por estas razões, os signatários solicitam a V.Exa. a reapreciação dos seus processos com vista a um eventual perdão de dívida e esperam, da parte de V.Exa., a mesma compreensão demonstrada em relação ao filho do seu antecessor.

Com os melhores cumprimentos.

(Assinaturas identificadas)

Pedro Caldeira Cabral em Bruxelas - Guitarra Portuguesa à l'honneur

Os que me conhecem sabem que, nestes últimos tempos, para que saia de casa é preciso quase apontarem-me uma arma. Estou a tornar-me num verdadeiro bicho-do-mato e, mesmo quando por fim me decido a aceitar convites ou a essas actividades tão simples, como ir ao cinema, ao teatro, a um concerto, há sempre um momento, antes ou depois do duche, antes ou depois de começar a vestir-me ou de calçar meias e sapatos, em que me apetece telefonar a dizer que não vou, que apanhei um resfriado, que estou com gripe, que me dói o estômago, que caí nas escadas e parti um braço ou uma perna, que o carro está sem bateria, que as crianças estão doentes ou, enfim, que o cão precisa de ir ao veterinário. Tenho a certeza de que, se pudesse contactar esses amigos por correio electrónico, ainda sairia menos do que é habitual. A necessidade de falar ao telefone, e a sensação, verdadeira ou falsa, de que o tom da minha voz me denunciaria, levam-me, quase sempre, a resignar-me ao meu fado e a essas saídas. Confesso, também que quase nunca me arrependo. É mais uma espécie de preguiça do que um carácter anti-social.

Seja como for, ainda bem que não consegui encontrar desculpa que não fosse esfarrapada quando a Vanda me convenceu a acompanhá-la ao concerto que Pedro Caldeira Cabral deu em Bruxelas, na passada sexta-feira, dia 12 de Outubro. Pensei a princípio que se tratasse dum evento (palavra o combien detestável) organizado pela Presidência portuguesa e preparava-me para encontrar todo o conjunto de gente que é presença habitual nestas ocasiões. Nada disso. Nunca encontrei o senhor Vasco da Ascensão mas foi ele que, conhecendo Pedro Caldeira Cabral, o convenceu a vir a Bruxelas: e em boa hora o fez! O concerto realizou-se no espaço Molière, ali para os lados da Porte de Namur. Portugueses estavam alguns, embora poucos, muito poucos se comparados com tanta gente de outras nacionalidades que enchia as salas. Não tenho acompanhado o programa cultural da Presidência portuguesa mas espanta-me que não tenham pensado em Pedro Caldeira Cabral e neste seu recital sobre a guitarra portuguesa.

Tratou-se dum espectáculo inesquecível e não por qualquer efeito mediático ou de publicidade mas apenas pela sua formidável qualidade. O programa foi desenhado com notável inteligência. Tratava-se, em primeiro lugar, de ilustrar a história do fado através das músicas compostas pelos mais célebres guitarristas portugueses. Como disse Pedro Caldeira Cabral, o fado é actualmente associado, de forma quase exclusiva, ao canto, e os seus protagonistas mais conhecidos são as fadistas e os fadistas (Amália, em particular e, tratando-se de canto, com toda a razão). Mas eram os guitarristas, os cultores da guitarra portuguesa, que, em tempos passados, ensinavam as canções e as formas de cantar, era através deles que se transmitia a memória do fado, eram eles os guardiães da tradição.

A guitarra portuguesa teve origem na cítara que é conhecida em Portugal pelo menos desde o princípio do século XVI. Garcia de Resende informa-nos que, em 1521, foram embarcadas uma cítara e três violas no navio que levou a princesa D. Beatriz, filha de D. Manuel, para Sabóia. Informações deste tipo são-nos transmitidas ao longo do espectáculo, sempre a propósito.

A primeira parte do concerto, que começou com uma obra anónima que é a mais antiga música de fado de de que há registo escrito, é dedicada a guitarristas célebres, cujas obras são interpretadas com mestria por Pedro Caldeira Cabral. Luís Carlos da Silva “Petroline”, celebre guitarrista dos finais do século XIX e princípios do século XX, que cantou para o Czar e para o Rei de Portugal e Reinaldo Varela, autor de um célebre método de estudar e tocar a guitarra portuguesa, são exemplos de guitarristas de Lisboa. Com Anthero da Veiga e Gonçalo e Artur Paredes, estes últimos fazendo parte duma família de guitarristas que viria a terminar com o grande Carlos Paredes, passamos ao estilo de Coimbra. Voltamos a Lisboa com Armando Freire “Armandinho”, para cuja redescoberta na década de 80, Caldeira Cabral contribuiu decisivamente, e José Nunes, amador, empregado na EDP, acompanhador de Amália e considerado por esta como o melhor de todos os seus acompanhadores. Referência especial mereceu também a família Grácio, construtores de guitarras que fabricaram para Artur Paredes e a Armandinho novas guitarras que incorporavam alterações técnicas inovadoras que ainda hoje perduram.

Depois do intervalo, uma primeira parte foi inteiramente dedicada a Carlos Paredes, de que ouvimos as principais obras, entre as quais as Variações em Ré Menor e o célebre Verdes Anos, música do filme de Paulo Rocha. Depois Caldeira Cabral interpretou obras de sua autoria, de entre as quais vale a pena destacar as Variações sobre os Verdes Anos, a música composta para o documentário Castro D’Aire e o Fandango, mostrando um apreciável ecletismo – não se esqueça que, no início da sua carreira, adaptava à guitarra portuguesa obras renascentistas, barrocas, clássicas ou românticas. Acabámos, entre aplausos entusiasmados e sinceros, com três encore, de entre os quais as Variações sobre o Fado Lopes permitirem ao guitarrista demonstrar, como se fosse necessário, o seu virtuosismo. A acompanhá-lo à viola, Joaquim António Silva, que, neste papel geralmente ingrato mas necessário, assumiu a abnegação e a modéstia necessárias.

Mas o principal trunfo e motivo de regozijo desta soirée foi, sem sombra de dúvida, o próprio artista. Sente-se em Pedro Caldeira Cabral um profundo respeito pela tradição que representa e é patente, a cada momento, o seu sincero orgulho em ser o continuador de uma notável linhagem de cultores da guitarra portuguesa. Ao mesmo tempo, Caldeira Cabral é um daqueles (poucos) homens que, íntimo conhecedor dos temas que apresenta, não precisa de levantar a voz para ser ouvido: nele destaca-se uma grande e comunicativa simpatia e uma humildade que é pouco habitual encontrar nestes tempos em que a superficialidade impera. Nada disso, nem a sua cultura ou inteligência, nem o seu sucesso, o impede de demonstrar um discreto sentido de humor, como sinal de que não se dá demasiada importância. O que disse de Carlos Paredes, com quem partilhou, durante anos, o mesmo acompanhador (Fernando Alvim) e, particularmente, as suas palavras sobre a sua doença, foi comovente sem ser lamechas. A descrição que fez das diferentes festas populares ligadas aos Baile dos Caretos, de Trás-os-Montes, deixou-nos a todos um sorriso nos lábios. Já quando o vi na televisão, há alguns meses, num programa dedicado à história da guitarra portuguesa, tinha ficado impressionado com este misto de cultura e modéstia que nos apresentava. Agora, fiquei entusiasmado. E vou repensar esta minha mania de ficar em casa – pelo menos quando se tratar de ir assistir a espectáculos como este.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Perdão de dívida no BCP - Nós e os outros

A história do perdão, pelo BCP, de uma dívida de alguns milhões de euros (uns dizem doze, outros quinze) ao filho de Jardim Gonçalves deixa-me enojado. Portugal é um país onde as elites, políticas, económicas ou intelectuais, perderam toda a vergonha. Um crédito concedido ao filho do antigo Presidente do Conselho de Administração e actual Presidente do Conselho de Supervisão do banco, sem garantias reais ou pessoais, é perdoado por se ter verificado impossibilidade de cobrança. O pai afirma nada saber de tais negócios do filho, nem sequer para o ajudar, como bem realçou Marcelo Rebelo de Sousa que, com alguma ironia, afirmou que, se o caso se tivesse passado consigo, teria passado noites sem dormir à procura de solução. O conselho de administração diz que «é tudo normal», que esta é a prática seguida em relação a devedores em dificuldades financeiras, como se os bancos trabalhassem assim, quer na concessão de crédito, quer na sua cobrança (e ainda bem que isso não acontece porque senão seriam os nossos depósitos que ficavam em risco).

Insurjo-me particularmente contra esta «justificação» do conselho de administração, mentirosa, hipócrita, altaneira, numa atitude que demonstra desplante e descaramento e, sobretudo, um inqualificável desdém e desprezo pelos milhares de devedores do banco que foram objecto de penhora de salários e ordenados ou, às vezes, das casas onde viviam, e condenados a uma vida de enormes dificuldades, porque o banco não adoptou, relativamente a eles, esta atitude leniente. Num caso que me é próximo, nenhum perdão, nenhuma consolação, foi dado ao devedor, empresário a quem os negócios correram mal e que, mesmo para actividades ligadas à empresa, só conseguia crédito se prestasse hipotecas e avales pessoais, seus e da sua mulher.

O que aflige é esta dualidade de critérios, esta atitude de «nós fazemos porque podemos; os outros que se lixem». Isto não augura nada de bom para as empresas portuguesas, grandes ou pequenas, dirigidas por gente desta espécie. Por isso, quando me vêm falar das elites portuguesas, só me apetece dar uma enorme gargalhada.

Regreso ao blogue

Não estou - nunca estou - exactamente como na imagem (mas achei-a magnífica) e o regresso de que falo é de voltar aqui e não ao trabalho, até porque ficarei por casa durante os próximos dez dias por cauda duma intervenção médica sem gravidade. Pretendo assegurar de novo alguma regularidade a este blogue e peço desculpa pela ausência prolongada. Mas hoje, como se verá pela entrada seguinte, é sob o signo da ira que recomeço.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Prémio Nobel de Literatura 2007 - Doris Lessing

No que se poderia chamar uma lição de modéstia, reconheço que nunca li nenhum dos seus livros. Boa altura para começar!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Bip - A Grandeza do Silêncio

A minha referência a Marcel Marceau, o mimo que desapareceu há alguns dias, foi demasiado breve e superficial. Recolho no Economist esta referência comovente ao palhaço Bip, a principal personagem a que Marceau deu corpo (a ponto de o obituário da revista inglesa ter como título Bip e não Marcel Marceau):

«Bip nunca falou. O pai de Marcel Marceau morrera em 1944 em Auschwitz, e o silêncio de Bip era uma homenagem a todos os que tinham sido calados nos campos (de concentração). Era também a recordação da necessária mudez dos resistentes capturados pelos nazis, ou das pessoas que furtivamente conduziam crianças através da fronteira suiça, como o fez o próprio Marceau.»

Se, na altura da sua morte, eu tivesse sabido disto teria antes dito: A Grandeza do Silêncio. Ou a sua memória! Perante estas coisas, nós que, por causa de gente como essa, tivemos uma vida relativamente fácil - curvemo-nos. Com reconhecimento, com gratidão.

Margarida Rebelo Pinto - Texto e comentários

Às vezes, fico mesmo irritado.

Estava à procura no Sol de comentários sobre a vitória de Luís Filipe Menezes nas eleições do PSD, e dei por mim a visitar o blogue de Margarida Rebelo Pinto. (Recuso-me a dar-vos o endereço do site. Se quiserem, vão procurá-lo sozinhos.) Deparei com a seguinte prosa (meus comentários entre parênteses e em itálico):

«Não fui ao Estádio Nacional apanhar vento e ouvir o mítico trio dos Police, mas a doce memória da minha adolescência (Referências culturais: Camões e Bernardino Ribeiro!) não podia ficar indiferente perante este súbito regresso ao passado (Referência cultural: Micahel J. Fox e «Regresso ao Futuro»). De repente, senti-me outra vez com 14 anos, vestida de anorak de penas e botas de carneira a caminho da paragem do (autocarro) 15 para o Liceu Maria Amália (Corajosa confissão que já ninguém faz! Tudo isto é levemente possidónio!).

«Ser adolescente no início dos anos 80 era um bocado chato (São opiniões. Como se verá mais tarde, MRP acha que era melhor ser adolescente mais cedo.). Não havia televisão por cabo (conferir infra) e o Boy George era mais popular do que a Madonna. Só isto já mostra como esta época foi negra (O reino de Darth Vather.) Recentemente comprei o DVD do Blade Runner e foi então que me apercebi até que ponto os 80 foram uma década pesada, com as influências punk e new wave por todo o lado (MRP: Viu mesmo o «Blade Runner»?).

Hoje os miúdos de 15 anos sabem muito mais sobre muito mais coisas do que nós sabíamos ou sequer imaginávamos com a mesma idade (De certeza? Aconselho-lhe a leitura de Balzac!). Naquele tempo, como se diz na Bíblia, as meninas ainda eram controladas a rédea curta por pais ferozes ou irmãos mais velhos dominadores (Palavra?). Num concerto dos Cheap Trick a que assisti com o meu irmão e um candidato a namorado, foi por pouco que o desgraçado não levou uma pêra (Ainda bem que não passou de candidato… Ele não valia a pena! Se bem que, consigo... Afinal, talvez tenha fugido!).

Até que ponto mudou a mentalidade em Portugal? Com mais ou menos morangos (Nova referência cultural: série da TVI «Morangos com Açúcar») e mais ou menos acesso a pornografia pela net (Ainda uma referência cultural que, desta vez, não consigo identificar), como vê a nova geração as relações amorosas? (Se MRP fala das suas, a resposta é: com compreensível enfado.) Uma elevada percentagem é filha de pais divorciados (O tempora, o mores!). Qualquer miúdo com dez anos usa a palavra gay com a mesma facilidade com que usa a palavra gomas (De certeza? E com o mesmo gosto? Então, o mundo está perdido!). Na minha família, tal conceito nunca foi sequer aflorado (Gente fina é outra coisa!), pelo que só me apercebi da existência de pessoas que se apaixonavam por pessoas do mesmo sexo já perto dos 20 anos (MRP só descobriu ao 20 anos o que não era falado em família? Se é assim, tudo se explica!)

Mas naquele tempo também existiam outros encantos (Ah! enfim! Mas é impossível: não havia televisão por cabo!). Como só nos podíamos comunicar por bilhetinhos, cartas ou através do telefone fixo, era tudo mais lento (Bom, bom!), mais difícil (Que desilusão!) e muito mais poético (Hum!). As meninas passavam a vida (Nem sequer iam à praia! Cruel fado, em Portugal!) fechadas na divisão mais recôndita da casa a namoriscar ao telefone, graças a um fio muito comprido (Poético?). Na minha casa, o local preferido era a dispensa (Que sorte! Que cheiro!), pelo que namorei muitas horas mano-a-mano com garrafas de azeite e pacotes de farinha Amparo (Pelo menos, ninguém a interrompia!). E as pessoas passavam mais tempo juntas, porque estar em casa não era sinónimo de estar no messenger a conversar (Peço desculpa mas, se bem compreendi, era sinónimo de estar na dispensa a conversar com o namorado!)). No fundo, éramos muito mais livres (Uaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaauuuu. Bem no fundo, de certeza!). O meu eterno namorado de adolescência telefonava duas ou três vezes por semana para irmos beber café ou assistir a um filme (Só? Ainda bem que acabaram cedo.). Nunca combinava a que horas ligava, por isso se eu não estivesse em casa, paciência (E ele? Coitado! Às tantas, cansou-se.). Por outro lado, porque as pessoas se encontravam mais (Não compreendo: certamente que não naquelas alturas em que a menina não estava em casa?), havia menos teatro nas relações. Atrás das teclas de um computador ou de um telemóvel podemos criar personagens; ao vivo é que é mais difícil (Para esta frase brilhante, MRP baseou-se nas conclusões do célebre estudo psico-sociológico efectuado por uma equipa da Universidade do Utah com o título: «A influência da comunicação virtual no desenvolvimento harmonioso da relação interpessoal e da personalidade»).»

Por favor, salvem-me.