Vikram Seth e «A Suitable Boy»
Aconteceu por acaso. Tive uma reunião perto das Filigranes – a minha livraria de Bruxelas – e passei por lá. A livraria estava praticamente vazia mas, no bar, três pessoas conversavam em torno duma mesa. Um dos empregados aproximou-se de mim e disse-me: «Sabe quem é?» E continuou: «Vikram Seth. Veio apresentar a tradução do seu último livro: Two Lives, Deux Vies.»
Conheci Vikram Seth através do seu segundo livro – e seu maior êxito: A Suitable Boy. Trata-se dum livro estupendo, que começa pela história duma mãe que procura um bom partido para uma das suas filhas, Lata (e bom partido significa casamento decidido pelos pais, num ambiente em que as diferenças religiosas têm que ser tomadas em conta), e se estende depois a um fresco da Índia nos anos imediatamente a seguir à independência, tendo como pano de fundo o enorme conflito religioso e racial que se viveu naquele tempo. Quando foi publicado, o romance mereceu aplauso unânime e lançou a carreira de Seth. Um seu romance posterior, Equal Music, desiludiu. A sua última obra, que já referi, conta a história da seu tio avô, Shanti Behari Seth, que conheceu e casou com uma judia alemã, Henny Caro, que conheceu em Berlim nos seus tempos de estudante e teve, de novo, sucesso crítico. Vou reler A Suitable Boy durante estas férias da Páscoa, como prelúdio à leitura de Two Lives.
Como não estava quase ninguém nas Filigranes, pude falar com Vikram Seth durante algum tempo. Elogiei-lhe a sua pronúncia de nomes portugueses – reproduziu perfeitamente o som nasal de João, algo que os estrangeiros têm normalmente dificuldade em fazer. (Quando, mais tarde, efectuei uma pesquisa na Internet sobre Seth, soube que ele conhece perfeitamente o mandarim e compreendi que, para ele, o som de João não deve apresentar enormes dificuldades.) Falámos do Brasil, onde ele vai proximamente, em promoção do seu livro. Falámos de Portugal, que não conhece, e da Editorial Presença, que editou a tradução portuguesa de A Suitable Boy (Um Bom Partido) mas não soube dizer-lhe, porque não a li, que era de muito má qualidade, informação que me deu a Sofia, a quem telefonei entusiasmado logo após o nosso encontro. E falámos do livro, mas muito rapidamente porque havia duas pessoas à espera: levou oito anos a escrevê-lo. Quando lhe disse que o tinha lido, perguntou-me o que fazia («Sou um eurocrata», respondi-lhe) e comentou que eu não deveria trabalhar muito, se tinha tempo para ler livros como o dele. Sorrisos! Despedidas!
Saí da livraria contente e com um calhamaço (mais de mil páginas) da tradução francesa, que se intitula Un Garçon convenable (fotografia aqui ao lado), devidamente dedicada «To José Pedro with every good wish. Vikram Seth». E o meu nome escrito com acento, e tudo!