sábado, 29 de setembro de 2007

Os grandes do PSD

Não resisto a mostrar ainda este desenho de alguns dos «líderes naturais» do PSD (pelo menos, é assim que eles se vêem), tirado do mais fenomenal site de imagens de políticos e homens públicos portugueses disponível na rede em www.wehavekaosinthegarden.blogspot.com, de onde já tinha tirado as imagens da entrada anterior. Aqui estão, da direita para a esquerda: Nuno Morais Sarmento, Manuela Ferreira Leite, Luís Filipe Menezes, António Borges e Helena Lopes da Costa. Vão ver este blogue. Parece tirado do Gato Fedorento.

Eleições no PSD


Bom... vamos por partes.

Qualquer destas imagens é magnífica. Prefiro marginalmente a primeira. Podem encontrar-se em www.wehavekaosinthegarden.blogspot.com

Quanto ao fundo:

Marques Mendes foi derrotado porque o PSD percebeu que, com ele, nunca voltaria ao Governo. Marques Mendes é pessoa estimável, inteligente, trabalhadora, com a cabeça bem arrumada. Mas é demasiado certinho e apuradinho – o género do aluno marrão que ninguém escolhe para chefe de turma.

Luís Filipe Menezes (com «z») ganhou porque se candidatou. Ah! é verdade! Há por aí inúmeras pessoas que seriam melhores líderes (muito gostam eles desta palavra: o verdadeiro líder, o líder afirmativo, como já ouvi dizer!) do que ele. Relvas, Branco, Leite, Rio, etc., etc. - mas não até ao infinito porque não são assim tantos! Mas não se candidataram e, nestas coisas de eleições e de democracia, isso é (infelizmente para os muitos que preferem ser escolhidos a eleitos) um primeiro passo necessário.

Mas é claro que se confirma que o PSD ensandeceu! Porque Menezes, ao contrário de Mendes, não tem, que se saiba (e ele já por cá anda há muito tempo), nada na cabeça: nem uma ideia, nem um projecto, muito menos um programa ou, como também se diz agora, uma agenda, para o país ou para o partido. Apenas algumas frases feitas, e por sinal muito banais. Queria chegar ao poder – é tudo. Mas o PSD já devia saber que, com gente assim, não chega, nem ao poder, nem a lado nenhum.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Coragem

É por coisas como esta que gosto de Angela Merkel... Nem problemas de agenda nem medo da China (só para informação: os chineses anularam algumas reuniões técnicas previstas e efectuaram um protesto formal mas isso não incomodou a Chanceler.) Fico admirado por, na Alemanha, não existirem as razões «óbvias» invocadas por Luís Amado para não receber o Dalai Lama.

domingo, 23 de setembro de 2007

Marcel Marceau (1923-2007)






O Poeta do Silêncio... A beleza formal da imagem sem necessidade de qualquer acompanhamento. De certa forma, o contrário da música e, especialmente, da dança.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Até segunda-feira!






Bom fim-de-semana...

PS Só pus este desenho, de que até nem gosto muito, para ver se a animação funcionava.

Ideia luminosa – Cimeira UE / África





Senhor Presidente,

Pode concluir-se desta fotografia que tem uma ideia para resolver o problema da recusa de Brown em comparecer na cimeira de Lisboa se Mugabe vier?

Se for assim, não se esqueça de telefonar depressa ao Sócrates ou ao Amado...

(Assinatura ilegível)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ja'i beaucoup aimé... et pas du tout

Uma extraordinária - ou visionária - interpretação duma das mais bonitas sinfonias russas, a Quinta Sinfonia de Tchaikovsky, pela Orquestra Filarmónica de Viena (considerada, em inquérito de que aqui dei notícia, a melhor orquestra do mundo), dirigida pelo mágico Valery Gergiev. Alguns puristas bastante mais entendidos do que eu consideram contestáveis os tempos escolhidos pelo maestro. Mas o que me impressiona é a grandeza desta interpretação, o seu ritmo e, ao mesmo tempo, a contenção de certas passagens, que nos prendem «par les trippes», nos exaltam e, por exemplo no Adagio, nos emocionam profundamente. O final é absolutamente deslumbrante, magnífico de força, de garra, de plenitude. Trata-se duma das mais esplêndidas gravações de obras orquestrais que tenho ouvido. Se, até agora, não tenho sido um grande apreciador de Gergiev, a minha opinião muda radicalmente com este disco. (Por vezes, Gergiev dirige a orquestra com algo parecido, em forma e tamanho, com um palito, como se pode ver, procurando bem, na fotografia aqui ao lado!)

Em contrapartida, o recente disco de Cecília Bartoli em homenagem à Malibran (a mais extraordinária soprano do início do século XIX, cantora preferida de Rossini e, se não estou em erro, a primeira intérprete da Norma de Bellini), desiludiu-me. Acho o canto de Cecília Bartoli exagerado, o que é pena porque este conjunto de canções que forma um programa bem construído teria sido melhor servido se a «mezzo-soprano assoluta» deste início do século XXI e, como tal, digna sucessora da Malibran, não tivesse sentido a necessidade de mostrar que é uma estrela.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Everything you always wanted to know about sex… but were afraid to ask

Para os que ainda têm dúvidas e não se lembram já do filme de Woody Allen, foi agora publicada em França a somente 15 euros («Sexe Machin. Quand la science explore la sexualité», d’Edouard Launet, Le Seuil) uma espécie de enciclopédia do sexo em que o autor detalha os resultados de vários estudos científicos que fornecem respostas para questões que todos nós nos pomos. Exemplos:

Que percentagem de mulheres conheceu, pelo menos uma vez na vida, uma experiência multi-orgásmica? (esta palavra não é aceite pelo dicionário do FLIP, que prefere orgasmo múltiplo). Resposta: Depois dum inquérito feito a 805 enfermeiras, 42 %, um número que parece bastante elevado mas que pode ficar a dever-se à competência dos seus parceiros (no imaginário colectivo, os médicos são bons amantes, principalmente quando enganam as mulheres com as enfermeiras de serviço.)

Uma experiência sexual com um parceiro é melhor para a saúde do que a masturbação? Sim, 400 vezes mais benéfica para a saúde (para a paz e sossego, é matéria que não foi investigada.) Deve ser por isso, também, que os velhos têm mais doenças.

Existe uma relação entre a medida do pé (42, 43, 44, 45 ou, pobres coitados, 38) e o tamanho da outra coisa... ? Não! Nenhuma. Resposta dos investigadores do Hospital St. Mary de Londres. Isso irrita-me um bocado. Sempre calço 43... e meio...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Outono








Em Bruxelas, voltaram os dias assim...

domingo, 16 de setembro de 2007

A visita a Portugal do Dalai Lama

Depois de ter ouvido Marcelo Rebelo de Sousa na televisão há menos de cinco minutos, fiquei mais descansado! Afinal, parece que não sou só eu que acha que não são «óbvias» as desconhecidas razões invocadas pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros para não receber o Dalai Lama. Na verdade, para evitar que tenhamos que concluir que, ou somos nós que somos estúpidos, ou é o Governo que é cobarde, seria indispensável que fossem explicitadas, ou melhor, confessadas, as razões que o Ministro parece considerar evidentes. Ou será que se trata apenas da falta de tempo invocada pelo Presidente da República mas que parece não prejudicar a agenda certamente mais sobrecarregada da Chanceler da Alemanha ou do Presidente da Comissão Europeia? Tristes cenas como esta, a juntar à insistência lusa em receber Mugabe como preço a pagar pela realização da cimeira afro-europeia, em nada contribuem para prestigiar a diplomacia portuguesa.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

J'ai beaucoup aimé

É verdade. Gostei muito desta gravação do Messias de Haendel pela Freiburger Barockorchester e The Choir of Clare College dirigida René Jacobs, mesmo se o tenor não se encontra nos seus melhores dias. Mas o maestro dirige com garra e ritmo. E a música é divina (mas, é claro, isso é mérito de Haendel e aplica-se a todas as gravações.) Recomendada pelo Dr. Mertens, que ouviu Jacobs ao vivo, em Bruges, nesta obra, e se rendeu ao som barroco.

Para registo, aqui ficam os nomes dos intérpretes: Kerstin Avemo, soprano; Patricia Bardon, alto; Lawrence Zazzo, contra-tenor; Kobie van Rensburg, tenor; e Neal Davies, baixo.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Chiquitita






















Para os que ainda conseguem gostar dos ABBA...
(O que, como se vê, não é o meu caso!)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Autoridade espiritual

Parece que o Papa, em Viena, decidiu proceder a um requisitório particularmente duro contra um modelo de vida europeu que combinaria «eficácia económica e justiça social» com a renúncia a «valores fundamentais». Obrigado, mesmo assim a reconhecer que o ideal europeu constituiu, para os países da Europa de Leste, que viveram sob o jugo do comunismo, «um estímulo à liberdade, ao Estado de Direito e à democracia», Bento XVI acha contudo que a Europa deriva para um «materialismo teórico e prático» que nos faz passar da tolerância à uma «indiferença privada de referências a valores permanentes».

De verdade? E é mesmo a Europa, entre todos os continentes do mundo, que merece críticas tão contundentes? Não teria o Papa, como se diz em francês «d'autres chats à fouetter»? Não poderia ter assestado baterias noutros lugares, contra outras gentes? Longe de mim pretender que tudo vai bem entre nós. Mas os valores de que precisamos não me parecem ser exactamente aqueles de que fala o Papa.

Senão vejamos. O âmago das acusações de Bento XVI tem a ver com aceitação da interrupção voluntária da gravidez na generalidade dos países europeus e com a possibilidade, que alguns acolhem e outros encaram, embora sempre rodeada de especiais cuidados, de lagalização da eutanásia. O Papa tem todo o direito de deplorar essa situação - eu já aqui disse, aliás, que não seria razoável esperar outra atitude da Igreja Católica. Mas, ao mesmo tempo, como esquecer que, em todo o mundo, é certamente na Europa que a vida humana é respeitada com maior plenitude? Refira-se, por exemplo, a abolição da pena de morte; ou, para semos mais comezinhos, que a mortalidade infantil é, entre nós, uma das mais baixas, senão a mais baixa, do mundo. E o modelo social europeu, se é certo que enfrenta problemas, conseguiu pelo menos evitar a maioria das situações de extrema pobreza que caracterizavam o nosso continente na altura em que era, dum ponto de vista espiritual, mais do agrado do Papa. Estas coisas – e outras –, não faria mal que Bento XVI as lembrasse também.

Não quero sequer entrar em polémicas desnecessárias, falando desses detalhes da História, como a Inquisição, a atitude da Igreja perante o avanço da ciência (Galileu, Darwin), o sua absurda incapacidade de compreender o mundo e o seu reaccionarismo no século XIX, ou a posição dúbia de Pio XII face aos crimes nazis e ao povo judaico. (Pelo menos, o Papa, neste seu discurso, falando diante do rabino Chaïm Eisenberg, teve a honestidade de pronunciar, parece que pela primeira vez, a palavra «arrependimento», referindo-se à Igreja e falando dos judeus.)

Cá por mim, julgo que Bento XVI podia preocupar-se com assuntos mais importantes. Eu até podia dar-lhe uma lista extensa. O que deveria interpelá-lo é que a Igreja que dirige assuma, perante os dilemas morais da vida moderna, uma atitude que a impede de exercer plenamente a autoridade espiritual para que, em sua opinião, se encontra vocacionada, conduzindo a que, na generalidade dos problemas fundamentais com que se deparam as mulheres e os homens de hoje, eles se orientem segundo valores que não são os do Papa ou da Igreja. Mas isso é culpa do Papa e da Igreja. Não da Europa. E não nossa.

sábado, 8 de setembro de 2007

Sarkozy e Barroso





Senhor Presidente,

Se eu tiver uma ideia destas, manda-me para casa?

(Assinatura ilegível)

Luciano Pavarotti (1935-2007)

Hesitei bastante antes de escrever este artigo. Não por abrigar quaisquer dúvidas relativamente ao génio de Pavarotti. A sua voz era a mais bela voz do mundo, o timbre lindíssimo, a projecção clara, límpida, luminosa, alegre. Mas porque, nos últimos tempos, antes da doença, essa voz foi posta ao serviço duma forma de carreira que apenas contribuiu para banalizar o seu canto e a ópera sem, ao contrário do que foi por tantas vezes afirmado em respostas a reparos deste tipo, ter trazido uma pessoa a mais que fosse aos concertos e récitas tradicionais. Na verdade, isso nunca podia acontecer porque, como é evidente, as pessoas que se extasiaram diante dos grandes concertos ao ar livre (um concerto em Central Park juntou, dizem uns, mais de quinhentas, dizem outros, de seiscentas mil pessoas) vinham para ver aquele tipo de espectáculo e não qualquer outro.

Mas depois, perante o conjunto de artigos que li a propósito da morte do Maestro, a minha reacção crítica atenuou-se. Em primeiro lugar, porque não é Pavarotti, longe disso, o responsável, muito menos o principal responsável, pelo declínio da ópera e do canto clássico. A verdade é que já não há compositores de ópera pelo que os intérpretes se vêem limitados a um reportório que, mesmo quando encanta alguns, não evolui nem oferece qualquer atractivo novo, excepto para uma pequena mão-cheia de conhecedores e apaixonados. Neste sentido, a ópera encontra-se mesmo em pior posição do que música clássica em geral. O último compositor de ópera verdadeiramente popular foi Mascagni, que morreu em 1945; o último verdadeiramente genial, Puccini, desaparecido em 1926. Poulenc morreu em 1963, Nono em 1990. Não seriam populares mas tinham, pelo menos, o mérito de existirem e a sua obra é, em termos musicais, inovadora e reconhecida. Na ópera, nem isso.

Assim, Pavarotti decidiu abandonar os horizontes fechados dos principais teatros de ópera europeus, que comparava a «maisons-close» (francês para bordel), e usar a sua voz magnífica para atingir o grande público. Com Domingo e Carreras, organizou esses concertos dos três tenores que se degradaram ao longo dos tempos mas de que o primeiro, em Roma, em 1990, ainda apresentava alguma qualidade. Depois, encetou, por assim dizer, uma carreira a solo, em que se fez acompanhar por músicos modernos: Elton John, Bono, Sting cantaram com ele... A partir daí, a sua carreira assentou quase exclusivamente nesse tipo de grandes espectáculos que o tornaram riquíssimo e, pouco a pouco, foi-se distanciando das salas de ópera (se bem que o início da doença também tenha contribuído para esse afastamento) ao contrário, por exemplo, de Placido Domingo, por exemplo, que nunca abandonou a sua actividade de cantor e maestro e assumiu riscos, como, por exemplo, em 2001 (Paris) o de cantar o papel de Parsifal na ópera de Wagner. Os discos recentes de Pavarotti mostravam-no a cantar canções napolitanas e algumas áreas conhecidas e de sucesso fácil como La Donna é mobile ou Nessun dorma (o que não significa áreas fáceis: Nessun Dorma de Turandot (Puccini) é tudo menos fácil). Só que cantava tudo isso de forma magnífica e como ninguém. Quando soube da sua morte, ouvi o seu Torna a Sorriento (Curtis). Muito bem: é uma canção napolitana, uma canção popular, ligeira, um divertimento... Mas, na sua voz, é ainda algo de sublime. Mesmo Volare cantado por ele nos transportava para um mundo diferente. Dizem que a música é um dom dos Deuses. Hermes e Apolo ofereceram-nos a lira. O canto será assim (como a poesia) a forma de os homens se dirigirem aos Deuses. Nesse diálogo, Pavarotti era o nosso intérprete, o nosso tradutor simultâneo.

Mas, nos últimos tempos, sua capacidade de construir um papel – e a ópera é teatro e música e não apenas teatro – tinha quase desaparecido. A última vez que cantou uma ópera completa foi, segundo uns, em 2002, no Covent Garden, segundo outros, em New York, no Metropolitan, em ambos os casos no papel de Cavaradossi, na Tosca de Puccini (ver ao lado a caricatura de Al Hirschfeld.) O seu talento de actor nunca fora grande (recordo-me de o ver uma vez na televisão no papel de Ricardo em Un Ballo in Maschera, de Verdi: parecia um elefante a passear no palco mas um elefante de voz gloriosa, que cantava as áreas do primeiro acto e o dueto com Amélia de forma estupenda) e a voz já não tinha, segundo as críticas, nem a alegria nem a limpidez dos tempos áureos. Por outro lado, sempre fora um cantor intuitivo. As más-línguas diziam que não sabia música e ele próprio confessava que não aprofundava muito o sentido musical das obras que cantava: sabia-as de cor mais do que as aprendia. O que só aumenta a sua glória. Nascera para cantar.

Para o lembrar, o melhor é voltar a essa época, dos seus primeiros passos, no início da década de sessenta quando apareceu, triunfante, genial. Penso que a primeira vez que dele se ouviu falar a sério foi em 1963, quando substituiu Di Stefano (o comparsa de Callas), no papel de Rudolfo na La Bohème de Puccini. Em disco, pode começar-se pela gravação que fez dessa ópera, dirigido por Karajan e acompanhado por Mirella Freni. Há ainda uma gravação do Requiem de Verdi, com Karajan, que não ouvi mas que dizem ser excepcional. (Eu tenho um disco em que canta o Stabat Mater, de Rossini, com voz gloriosa, mas o resto, maestro e cantores, não se encontra à altura.) Depois, há um conjunto de gravações com Joan Sutherland,dirigido por Richard Bonynge. Fundamentais são as principais obras de Donizetti: Lucia, certamente, mas antes de tudo, L’Elisir d’amore e La Fille du Regiment.Gosto principalmente da sua interpretação de Ricardo em Un Ballo in Maschera. Nunca ouvi as áreas do primeiro acto cantadas com a leveza que ele consegue dar-lhes. Dizem os entendidos que, à medida que envelhecia, a sua voz adquiria, como o vinho, mais corpo e profundidade. Os seus papéis alargaram-se um pouco. Mesmo assim, a sua versatilidade não se compara à de Domingo.

Gostaria de terminar dizendo que era um homem simpático. Gostava da sua terra e a gente de Modena gostava dele. O seu sentido de humor era proverbial, com a a graça dum homem gordo, popular, enfiado num grande corpo que, no fim, se transformou em «grand corps malade». O Presidente da Itália disse, singelamente, que Pavarotti honrou o seu país e que era normal que o seu país lhe prestasse honras também. Não queria ninguém de preto no seu enterro que desejava alegre, sem lágrimas ou choros. Por isso, deixo aqui ao lado esta caricatura que o mostra como era: um homem grande. Requiem in pacis.

O desaparecimento de Madeleine McCann

Nunca falei aqui sobre o desaparecimento de Madeleine McCann porque acho que, nestas situações, devemos deixar que se desenvolva em clima de total tranquilidade o curso das investigações policiais. Mas os acontecimentos destes dois últimos dias indignaram-me. Sei bem que os jornais e a populaça actuam como cata-ventos, ao sabor das emoções provocadas por notícias, boatos ou pura maledicência. Mas, mesmo tendo isso em conta, o que se passa agora em Portugal é repugnante.

Não consigo compreender como toda a gente acha normal que a Polícia Judiciária, numa primeira fase das investigações, não se tenha preocupado com a possibilidade da morte da criança e tenha concentrado todos os seus esforços na hipótese de rapto. Não está ainda provado que Madeleine tenha sido morta no apartamento da Praia da Luz que ocupava com os pais (embora seja cada vez mais difícil esperar que se encontre ainda viva.) Mas, sabendo-se da importância de uma análise exaustiva das cenas de crime (porque os indícios têm tendência a desaparecer e a passagem do tempo traz evidentes prejuízos à investigação), como é possível que, na altura, ninguém tivesse pensado em mandar analisar, se é que foi sequer procurado, o sangue que agora foi, segundo se diz, identificado nos laboratórios ingleses como pertencendo a Madeleine? E o que vêm fazer ao caso manchas de sangue se, ao mesmo tempo, se diz que a criança terá morrido dum excesso de calmantes ou comprimidos para dormir? Principalmente, o que aconteceu ao cadáver? (Fizeram-se, ao que me lembro, buscas aturadas nos dias imediatamente seguintes ao desaparecimento da criança; mas, se não foram feitas, o escândalo é maior ainda.) Se Madeleine foi morta acidentalmente pela mãe, como parece pretender a polícia, o que foi feito do corpo? A Praia da Luz não é assim tão grande, os McCann não deviam conhecer perfeitamente o local, o tempo não abundou. Continuo, por enquanto, a não acreditar no seu envolvimento na morte da filha. E pergunto-me ainda, se eram efectivamente culpados, porque continuaram em Portugal?

Por outro lado, e mesmo a confirmar-se que a morte da criança foi um acidente (ao que parece, não se acredita que tenha sido intencional) que Kate e Gerry McCann teriam escondido, é isso razão para a inacreditável atitude da populaça que, depois de chorar com os pais (às vezes, em lugar e vertendo mais lágrimas do que o casal inglês), vem agora apupá-los e vaiá-los, pronta a linchá-los na praça pública? Li mesmo que uma das mulheres que assim a enxovalhava teria estranhado a ausência de reacção de Kate, que vinha, recordemo-lo, a sair duma audição durante a qual tinha sido considerada suspeita da morte da filha, acrescentando que, «se fosse comigo», choraria baba e ranho e se lamentaria, acrescento eu, em gritos esganiçados e rugidos de raiva para toda a gente ouvir e comungar da sua dor. Essa atitude de ralé, perante a qual até as televisões portuguesas, quase sempre à procura da notícia sensacionalista, mostraram algum pudor (pelo menos, nas imagens que vi aqui em Bruxelas), mete-me nojo. Passará pela cabeça desses que gritam o indizível sofrimento que, a ser verdade tudo isso, e repito que ainda não sabemos se é, deve ter assomado os McCann para os levar a essa atitude de negação e ao pesadelo quotidiano da impossibilidade de iniciarem o processo de luto? Mesmo que tenham sido culpados de ocultação de cadáver, e principalmente se foram culpados, por negligência, da morte da filha, a nossa atitude perante eles (para além, evidentemente, de deverem sujeitar-se às penas que ao caso couberem) não deveria ser antes de profunda compaixão. Não de desculpa certamente, mas de aflita piedade?

Anda gente demais a falar neste assunto! (Por culpa, em parte, da Polícia Judiciária.) Assim, pode ser verdade, por exemplo, como se disse ontem na RTP, que Gordon Brown, o Primeiro-Ministro britânico, seja amigo, e até colega de escola, de Gary McCann, mas eu nunca vi nada disto referido em jornais britânicos. Pode ser verdade que o Papa considere ter sido utilizado pelos McCann, mas deduzir isto do facto de terem sido retiradas as referências ao caso no site do Vaticano (acompanhado da frase sibilina que, nestas coisas, a Igreja está sempre bem informada) parece-me demasiado ligeiro. E pode ser verdade que a nossa polícia seja a melhor do mundo e que tenhamos considerado insultuoso o tratamento que mereceu por parte da imprensa britânica, mas isso não é razão para concluir desde já pela culpabilidade dos pais de Madeleine.

É evidente que é impossível mas devíamos calar-nos todos por uns tempos. Há alturas em que o silêncio é mais indispensável do que nunca. Este clima de diz-se/diz-se, estas constantes entrevistas a auto-designados peritos em investigação, em psicologia forense, em genética, estas hipóteses que qualquer locutor ou repórter de televisão não se coíbe de alinhar diante das câmaras, não servem ninguém e contribuem para o clima mórbido e malsão que tem ultimamente orientado as investigações. Pela minha parte, prometo nada mais dizer até que se tenha a certeza ou, pelo menos, indícios sólidos, do que efectivamente aconteceu.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

José de Guimarães - Exposição em Bruxelas



Afinal nem foi muito difícil encontrar tema com pessoa viva. Recebi agora mesmo este anúncio duma exposição aqui em Bruxelas de obras inéditas, em bronze, aço e néon de José de Guimarães. (Gostaria de agradecer muito sinceramente a Françoise Engel que, sem me conhecer mas de forma extremamente simpática, me enviou a fotografia que acompanhava o anúncio da exposição em formato que me permite inseri-la no blogue.)

A exposição, com o título «Les voix nomades» (segundo um poema de Philippe Jones, poeta e académico belga), estará aberta ao público de 5 de Outubro a 23 de Dezembro, entre as 8 da manhã e as cinco da tarde (entrada livre) no Espace Européen pour la Sculpture : Parc Régional Tournay-Solvay.

Para os interessados, a morada completa é a seguinte: Parc Régional Tournay-Solvay – Chaussée de la Hulpe 201 – 1170 Bruxelles, e pode lá chegar-se pelo Tram 94 ou por comboio, linha Ottignies/Louvain-la-Neuve, paragem na estação de Boitsfort.

Outras informações úteis:
Parking : Gare de Boitsfort
Contact : eesculpture@skynet.be; francoise.engel@skynet.be
Tél. : +32(2)660.99.80 ou +32(2)375.41.17

Epitáfios

Estou a preparar um artigo sobre Pavarotti, que conto completar durante o fim-de-semana, mas surgiu-me de repente o temor de que este blogue se esteja a tornar numa espécie de resenha de epitáfios… Uma espécie de imitação da leitura das páginas de necrologia dos jornais diários a que, segundo se diz, os mais velhos têm tendência para se dedicarem à medida que envelhecem – como forma de garantir que estão vivos e sobreviveram a muito boa ou má gente. Tenho a ideia de que já escrevi aqui mais artigos sobre pessoas mortas do que sobre pessoas vivas. Vou tentar mudar: durante alguns tempos, depois de Pavarotti e Maria Callas (já acrescentei mais um nome ao rol), só escreverei sobre pessoas vivas. Mas confesso um certo embaraço. Não me vêm nomes decentes à cabeça. Será que as pessoas que atingiram certa notoriedade só me interessam depois de mortas? Isto pode ser sinal de bom feitio (esqueço-lhes facilmente os defeitos e lembro-lhes estimadamente as qualidades) ou, pelo contrário, pode denotar uma deformação de carácter de que, a ser verdade, eu deveria envergonhar-me.

Eis o tipo de pensamentos que resultam de ser sexta-feira e eu estar na Comissão, a ver passar o tempo esperando, como bom funcionário, a hora de saída que teima em demorar, com o dia escuro a entrar-me pela janela e as notícias dos jornais tristonhas e cinzentas (ou desoladoramente negras, como a possibilidade de que se fala agora e em que me recuso a acreditar de Kate McCann ser suspeita na morte da sua filha.)

Parabéns Teresa (comadre)

Esta coisa de nos fiarmos nas agendas electrónicas ou na memória dos telemóveis (e que às vezes deixamos em casa) tem como resultado que nos esquecemos de quase tudo se não temos à frente dos olhos o ecrãzinho luminoso. Ora, eu deixei o meu em casa nos últimos dias tal é a vontade de deslembrar as coisas que tenho para fazer neste regresso de férias. Nem é sequer que sejam muitas: é que, pelo menos no que respeita à Comissão (por favor, Senhor Presidente), são muito chatas.

Por isso, estes parabéns vão atrasadíssimos. Mas não são menos sentidos e, como já disse à Teresa numa mensagem que lhe mandei, a minha penitência (mas não é grande) será a de recebê-la em Bruxelas quantas vezes quiser, para visitar a nossa neta.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Eduardo Prado Coelho e a avó Edmée - Explicações de francês

A Vanda diz o seguinte (num comentário publicado mais adiante mas que merece realce): «Quanto ao Eduardo Prado Coelho, (...) apenas me recordo de ter sido aluno de francês da minha avó Edmée. E que as explicaçoes se terminavam sempre com um pequeno Cinzano no "salon"!» Não seria este o livro que a sua avó usava mas é um exemplo de como, nessa altura, se ensinava o francês (o francês, e quase só o francês, aliás.). Gosto principalmente da seguinte troca de palavras «Que tem V.? Estou muito constipada. Assôe-se.» que me parece bastante prosaica. E também do «Sonhei consigo» que é pudicamente traduzido por «J'ai rêvé de vous» porque o tratamento por «tu» não é para ensinar a crianças ou adolescentes. Respeitinho!

Falta de inspiração

Não sei se é de Bruxelas, do tempo, da Comissão, do facto de ter cortado (ou melhor dizendo: rapado) o cabelo, da obrigação de passear o cão todas as manhãs, do regresso às aulas da Teresinha e do Diogo, da música de Bruckner, do romance de Vollman Central Europe, que comecei agora a ler em tradução francesa (a escrita dele é tão difícil que, em inglês, não consegui passar das primeiras páginas. Tenho lá em casa uma edição inglesa, se alguém quiser comprá-la. Contactos através deste blogue!), das noites em casa, dos episódios de Cold Case que passam sistematicamente repetidos na televisão, das visitas à Filigranes ou à livraria inglesa, das segundas-feiras no clube de bridge, ou de etc. – a verdade é que não me sinto inspirado e não me apetece por aí além escrever no blogue. Por isso, limito-me a estas entradas baseadas principalmente nas imagens que vou pescando na Internet e que terão, pelo menos, a vantagem de não aborrecer demasiado o Dico, que acha que eu escrevo (e falo?) demais. Os artigos sobre Maria Callas e Manuel de Lucena, já prometidos, aguardarão melhores dias. Preciso de tempo. Obrigadinho pela atenção.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Passear o cão em Bruxelas

Esta manhã chovia e eu pensei em comprar uma capa assim para a Kiddie - e ainda umas pantufas. Porque, se é verdade que o tempo melhorou e o sol até apareceu, entretanto a casa ficou toda molhada e pintalgada de pegadas enlameadas. Com o jardim arranjado (e lembrando o dinheiro que isso me custou), a Kiddie está proibida de sequer lá pôr o pé. O que me obriga, faça sol ou faça chuva, a passeá-la logo de manhã – e todas as manhãs! Em vez do jardim, agora suja o relvado da rotunda que fica ao fundo da rua. Acho que isto é um exemplo do que, em economia, se chama «externalidades negativas»: a Kiddie suja, a Câmara limpa. Viva o progresso!