domingo, 29 de abril de 2007

Yeltsin






















Uma frase na última edição do Economist sobre Yeltsin resume o drama de toda a história da Rússia: Yeltsin foi o único dirigente que os russos amaram (ou odiaram) sem o temerem. Com efeito, não havia razões para ter medo de Yeltsin. Havia alguma grandeza (e muita mesquinhez) nesse homem que, ao abandonar o poder, pediu desculpa aos seus concidadãos pelo que não conseguira fazer e lhes desejou que «fossem felizes» porque, mais do que muitos outros povos, tinham adquirido o direito a essa felicidade.

A fotografia mostra Boris Yeltsin, em Moscovo, dirigindo a resistência ao golpe de Estado de Agosto de 1991 que pretendia depor Gorbatchev, último sobressalto dos comunistas soviéticos apoiados no que restava do Partido e em certos sectores do KGB (a polícia política, de onde, aliás, vem Putin.)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Rostropovich

Em Março passado, tinha pensado em assinalar aqui os oitenta anos de Rostropovich. Mas foi uma época em que quase nada escrevi para o blogue. E agora vem a notícia de que morreu hoje, num hospital de Moscovo.

Era um extraordinário violoncelista. Mas era, acima de tudo, um homem corajoso, de uma coragem que se alicerçava nas suas convicções profundas - a essencial dignidade de todos os seres humanos, o valor da liberdade e da democracia - e de uma grandeza que se mostrava precisamente quando alguns outros preferiam fazer-se pequenos - para não serem notados. Quando Soljenitsyne foi perseguido pelas autoridades soviéticas, acolheu-o em sua casa e defendeu-o publicamente, caindo em desgraça perante as autoridades do seu país que o exilaram em 1974 e, juntando o insulto à injúria, lhe retiraram a nacionalidade soviética em 1978.

Há mais de dez anos, pouco depois da queda do muro de Berlim, assisti, com a Vanda, a um recital de Rostropovich no Palais des Beaux-Arts em Bruxelas. Devo reconhecer que foi uma desilusão. Rostropovich dedicou toda a segunda parte do concerto à interpretação duma impossível obra moderna, da autoria de um compositor presente na sala, cujo nome esqueci e nunca mais vi mencionado (defeito meu, por certo!) Mas a sala ovacionou-o de pé, e nós também: não, talvez, pelo espectáculo desse dia, mas certamente pela sua vida. Aplausos que eram largamente merecidos. E que podem ser repetidos hoje, com imensa emoção, no dia da sua morte.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril

Jorge de Sena

Cantiga de Abril

(Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
"Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade")

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.



Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura.
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essas guerra de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim, altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Outra coincidência notável














John Adams (à esquerda) e Thomas Jefferson, segundo e terceiro Presidentes dos Estados Unidos, também morreram no mesmo dia. Foram rivais. Jefferson, Vice-presidente de Adams (numa altura em que o Vice-presidente era automaticamente o segundo mais votado pelo colégio que elegia o Presidente dos Estados-Unidos, independentemente dos laços políticos que o ligassem a quem fosse eleito para a presidência – na verdade, na maioria dos casos, o Vice-presidente vinha do partido oposto ao do Presidente: daí a tradição de os Presidentes normalmente desprezarem, ou mesmo combaterem, os Vice-presidentes), manobrou de forma a impedir Adams de obter um segundo mandato na eleição de 1800. Este nunca lhe perdoou embora, nos últimos anos da vida de ambos, a memória das lutas pela independência dos Estados Unidos, o esbatimento da sua oposição política e a sua condição comum de elder statesmen, os tenha aproximado. Adams foi embaixador na Grã-Bretanha, Jefferson, embaixador em França, Adams, Vice-presidente de Washington (e, consequentemente, o primeiro Presidente do Senado norte-americano), Jefferson, seu Secretário de Estado (equivalente a Ministro dos Negócios Estrangeiros.) Embora fosse um espírito independente, Adams encontrava-se mais próximo dos Federalistas de Alexander Hamilton (que também fez parte do Governo de Washington, como Secretário do Tesouro, e havia de ser morto em duelo por Aaron Burr, uma outra personagem notável desses tempos, Vice-presidente de Jefferson e condenado por traição enquanto exercia o cargo) do que dos Democratas-Republicanos de Jefferson. A título de curiosidade, refira-se ainda que Adams foi também o primeiro Presidente a ocupar a Casa Branca. Enfim, histórias para contar au fur et à mesure!

O que é ainda mais extraordinário é que Adams e Jefferson morreram ambos a 4 de Julho de 1826, no preciso dia em que se comemoravam os 50 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, que Adams, mas não Jefferson (na altura em Paris), tinha assinado em Filadélfia. Os contemporâneos consideraram formidável esta coincidência. Diziam que ambos tinham ardentemente esperado por esse dia para se deixarem morrer e, principalmente, por causa da sua antiga rivalidade, que nenhum deles tinha querido que fosse o outro a ter sozinho a honra de morrer no dia em que se comemorava a obra de ambos.

Dia Mundial dos Livros e dos Direitos de Autor












Celebra-se hoje o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor - informação transmitida pela Vanda. O que é curioso é que este é o dia, em 1616, em que morreram os três grandes escritores cuja imagem aqui fica: Cervantes, Shakespeare e Inca de la Vega. Embora haja algumas dúvidas de detalhe (por exemplo, em algumas fontes, diz-se que Cervantes morreu a 22 de Abril e foi enterrado a 23; noutras, que Inca de la Vega morreu - em Córdova - no dia 24), trata-se duma coincidência notável.

Sofia

Há vinte e nove anos, quatro horas e quarenta minutos, começava, com o nascimento da Sofia, a minha aventura com os meus filhos! Será preciso dizer que, de tudo quanto me aconteceu, foi de certeza ser pai que me fez mais feliz? Que essa á a parte de mim relativamente à qual não tenho dúvidas, nem problemas, nem hesitações - em que me sinto totalmente realizado?

Comecei, no ano passado, uma outra aventura, desta vez com os meus netos (por enquanto, a Teresinha, mas é preciso que venham outros, depressa.) Só espero que com a mesma plenitude que sempre acompanhou a minha vida com os meus filhos.


E aqui fica um sorriso para a Sofia, Inês, Teresa, Diogo.

O dilema de François Bayrou

Mesmo sem passar à segunda volta, François Bayrou conseguiu ontem uma vitória notável. Diz a maioria dos comentadores que ele fez «renascer o centro.» Mas a verdade é que Bayrou enfrenta, agora, particulares dificuldades para traduzir o seu sucesso em algo de politicamente consistente.

Pela primeira vez na Quinta República, um candidato centrista consegue um resultado apreciável com recurso a votos vindos da esquerda. (Saliente-se, para compreender a dimensão do sucesso de Bayrou, que o seu resultado é melhor do que os de Lecanuet (1965), Barre (1988) ou mesmo Balladur (1995), e só ultrapassado por Giscard d’Estaing em 1974 e 1981, mas este beneficiando, na primeira eleição, do apoio de grande parte do partido gaulliste e, na segunda, do facto de se recandidatar como Presidente em exercício.) Com efeito, tradicionalmente, o centro em França obtém os votos dos descontentes de direita. Foi assim, em particular, no tempo de Chirac, como o prova aliás o resultado de ontem de Sarkozy, muito mais elevado do que conseguiu actual Presidente na primeira volta das quatro eleições em que participou.

Ontem, as coisas passaram-se de forma diferente. De acordo com sondagens já realizadas, os eleitores de Bayrou provêm, de forma mais ou menos igual, da direita e da esquerda e, quanto às suas intenções de voto para a segunda volta, distribuem-se também de forma equivalente, entre Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal.

O que dá bem a ideia do problema quase insolúvel que se coloca a François Bayrou. Num mundo ideal, o melhor caminho seria nada dizer – não dar indicação precisa de voto para a segunda volta. Qualquer coisa deste género: «Não sou proprietário dos votos dos meus eleitores, eles que decidam. Não fizemos esta campanha contra o sistema para vir depois aceitar a bipolarização institucional e todas as suas consequências.» Só que, para existir, Bayrou precisa de traduzir os seus votos de ontem em votos nas legislativas de Junho, que se seguirão às presidenciais. Idealmente, o que lhe conviria era que o novo Presidente precisasse dos votos do centro para governar: que nenhum dos partidos tradicionais (UMP ou PS) obtivesse maioria absoluta nessas legislativas.

Mas isto é extremamente difícil. Os deputados da UDF, nos diversos distritos eleitorais, são normalmente eleitos graças aos votos da direita. Com efeito, tendo em conta o sistema eleitoral francês, acontece que, na grande maioria dos casos, os deputados do partido de Bayrou defrontam-se, na segunda volta, com candidatos da esquerda. Mesmo que Bayrou estivesse disposto a esquecer este facto, com base numa dinâmica de vitória assente nos resultados de ontem, não é certo que os deputados do seu campo o sigam nessa estratégia. O que reduz consideravelmente o leque de opções à disposição do candidato centrista.

Dir-se-ia que a única solução possível seria a audácia – com um novo partido centrista, Bayrou e os seus adeptos atacar-se-iam à bipolarização política tradicional. Mas para isso seria necessário um novo sistema eleitoral.

Assim, mesmo se os resultados de ontem parecem dar conforto a Bayrou, na análise que faz dos problemas do sistema político francês (recusa do bipartidarismo e desejo de reforma institucional), é difícil ver como pode ele na prática capitalizar o seu sucesso. Raras vezes, a pergunta «Que farei com estes votos?» teve uma resposta tão difícil.

domingo, 22 de abril de 2007

Segunda volta - TSS

Assim, as linhas de fractura para a segunda volta estão definidas. Nicolas Sarkozy assumirá uma linha de ruptura mas apelará crescentemente a uma France fraternelle. Ségolène Royal falará de mudança em serenidade e da correcção das grandes injustiças sociais, dirigindo-se sobretudo a todos os que se sentem desconfortáveis com uma retórica que, a mal ou a bem, parece próxima do partido de Jean-Marie Le Pen. Para Sarkozy, a ruptura passa por acentuar a ideia de que só ele tem a coragem de dizer as verdades que os outros evitam (sobre a imigração, sobre a segurança, sobre o modelo social.) Por outro lado, nos próximos dias, o candidato da direita não deixará de sublinhar a sua competência face a uma candidata com comparativamente menor experiência governativa. Royal apresentou esta noite, com um detalhe que não era esperado, propostas precisas para a reforma das institutições, defendendo uma Sexta República de contornos mais precisos, e estendeu a mão aos eleitores dos candidatos que não passaram à segunda volta. Ao contrário do que podia prever-se, hoje, o discurso de Sarkozy foi mais de pessoa privada, o de Ségolène mais de mulher de Estado. Registe-se ainda a enorme participação eleitoral, invertendo uma tendência constante, nas últimas consultas eleitorais, para o crescimento da abstenção. Tem-se falado tanto da insatisfação dos cidadãos com a política e os políticos que esta é uma mensagem a meditar. Essa França do descontentamento, que tantos em Portugal (particularmente para os lados do Público) desprezam, deu-nos uma lição de civismo.

Quanto à minha opinião, ela não será surpresa para quem me conhece. Mas as razões que me levariam a votar Ségolène Royal não são as que constam do cartaz da candidata socialista. Não acredito, com efeito, que algo possa changer fort. O meu voto assentaria simplesmente num instinto que reconheço baixamente primitivo mas que é aquele que une os que, como eu, são adeptos do TSS (Tous Sauf Sarkozy). Há limites que não podem ser transpostos, palavras que não devem ser ditas, acções que desqualificam. Não vale a pena ir buscar os eleitores do Front National se o preço a pagar é aceitar os valores da extrema-direita.

Votos de Le Pen vão para Sarkozy logo na primeira volta

Parece que, afinal, Le Pen não terá mais de 12%, o seu pior resultado desde há muito tempo. Assim, grande parte dos votos de Le Pen passaram para Sarkozy logo na primeira volta. Mas, se é esta a forma de fazer entrar no redil o eleitorado de extrema-direita - aceitando os valores desta - esse é um jogo perigoso. A ver vamos...

Ségolène contre Sarkozy

Segundo jonral belga La Dernière Heure, Nicola Sarkozy e Ségolène Royal passam à segunda volta. Le Pen e Bayrou disputam o terceiro lugar, com ligeira vantagem para Le Pen. A confirmar...

Suspense

Às seis e meia, ainda nada se sabe, excepto que a participação atingiu o nível mais alto de sempre na Quinta República. Sinal do interesse que suscitou esta eleição que conduzirá ao poder, quaisquer que sejam os resultados, uma nova geração de mulheres ou homens políticos. Entretanto, os sites dos jornais e televisões belgas, que tinham anunciado que dariam os resultados por volta das sete da tarde, estão sobrecarregados. Assim, mais uns minutos de espera...

O que há de mau em Portugal – Portas

É este o homem que os militantes do CDS escolheram, uma vez mais, para chefiar o seu partido – para seu líder, como gostam de dizer, numa palavra que une autoridade, prestígio e uma certa e enganadora virilidade. Assisti de longe, e sem grande interesse, a mais esta peripécia da política portuguesa: a do fatal regresso do cavaleiro andante, de um Portas bronzeado e de camisa aberta em campanha, e que já apareceu de gravata e fato mais escuro depois de ganhar estas eleições internas. Não consegui descobrir nem sequer um início de resposta à pergunta simples que Judite de Sousa lhe colocou na Grande Entrevista em que explicou as razões da sua recandidatura: «Derrotado em 2005, por não ter obtido os 10% dos votos que pretendia, porque pensa que pode consegui-los agora?» Pertinente, com efeito! Mas o objectivo de Portas é simplesmente voltar - voltar ao Parlamento, ao partido, à ribalta. Ele é um homem que fala de empresários e criação de riqueza, de inovação, de cultura, da modernidade e de ideias - mas (se não contarmos algumas infelizes experiências em centros de sondagens) que nada sabe fazer senão política politiqueira. Portas pensa poder aproveitar a fraca liderança de Marques Mendes para se impor como chefe (é seu este gosto por palavras fortes) da direita portuguesa. Pretende, numa primeira fase, aparecer como o principal opositor parlamentar de José Sócrates. Mas não traz nem visão, nem objectivos, nem estratégia, nem meios: nada. Ou melhor, traz-se apenas a si próprio: oferece-se (sacrifica-se?) aos militantes do CDS, ao povo português. É, cada vez mais, um homem político que apenas existe na televisão. O problema, que não tardará a descobrir, é que as pessoas se fartam. O CDS, que nunca foi particularmente rico em ideias ou em coerência, empobreceu ainda mais. Definhará e desaparecerá, de morte natural, sem ninguém dar por isso. Em pouco tempo!

O que há de bom em Portugal – Eusébio

Vejo no Público de hoje a notícia triste de que Eusébio foi internado no hospital com arteriosclerose.

A primeira imagem que recordo dele é do Mundial de 1966, do jogo contra a Coreia, que Portugal venceu por 5-3, depois de estar a perder por 3-0. Eusébio marcou 4 golos – até 1994, o recorde (ex aequa) de golos por jogo numa fase final do campeonato do mundo. Na altura, vivíamos em Leiria: o meu irmão estava em exames da quarta-classe e a Mãe ainda não tinha desenvolvido aquela paixão pelo futebol e pelo desporto em geral que lhe veio mais tarde. Por isso, vi o jogo sozinho em casa, numa televisão (evidentemente) a preto-e-branco. Foi a partir da vitória sobre a Coreia que Portugal arrancou definitivamente para a sua melhor classificação de sempre em torneios internacionais. Eusébio foi a figura principal duma equipa magnífica (que também incluía, dos que me lembro, José Pereira, Vicente, Cavém, Coluna, José Augusto, Torres e Simões - talvez o João possa indicar o nome dos jogadores que aqui faltam), dirigida por Manuel da Luz Afonso e Otto Glória, respectivamente como seleccionador e treinador.

Estive depois, já não me lembro se no Estádio da Luz se no Estádio Municipal de Coimbra, no jogo em que Eusébio disparou a bola de pouco adiante da linha de meio campo e marcou um golo extraordinário, que Maló, o excelente guarda-redes da Académica, não conseguiu defender – sei lá se chegou a ver a bola!

Eusébio faz parte duma geração de futebolistas «como já não há!» Sempre fiel ao «seu» Benfica, mesmo os adeptos dos outros clubes sentem por ele um afecto real, uma espécie de ternura que vem de sabermos todos que não muda, que é o mesmo em todas as circunstâncias, uma pessoa real, verdadeira, simpática.

Assim, as melhoras! Há pessoas que não queremos perder cedo.

sábado, 21 de abril de 2007

Trezzu na Sicília (2) - Sol e mar

E espero que também aproveite o sol e o mar!

Trezzu na Sicília (1) - Percurso histórico

Em viagem de estudo, com os sapatos meio rotos e havaianas de reserva, e o entusiasmo de sempre. Ah! O boletim deste trimestre foi (mais do que) excelente. Boa viagem, minha querida. Cá estaremos para a aturar na altura do regresso a casa.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Eleições francesas (4) - Le Pen sinistro

Je suis français, et vous?

Eleições francesas (3) - Bayrou à esquerda

Centro? Que centro? Era só a brincar!

Eleições francesas (2) - Ségolène e o PS

Eu cá, sinto-me próxima dos franceses!

Eleições francesas (1) - Sarkozy porta-voz dos trabalhadores

Proletários de todo o mundo: uni-vos!

Eleições francesas - François Bayrou

Difícil foi escolher a imagem para ilustrar esta entrada. A maior parte das caricaturas de Beyrou, disponíveis em rede, mostram-no sobre um ângulo desfavorável, a cavalo entre a direita e a esquerda. Esta, ao menos, fala do «Tiers état.» Quem conhece a história da Revolução Francesa sabe o que isso significa!

Mas a representação tradicional de Bayrou contém muito de verdade. Não tenho ilusões. Bayrou, a ser eleito, sê-lo-á, em grande parte, pela mesma franja do eleitorado francês que permitiu a eleição de Giscard d’Estaing. Só que, hoje, o adversário não se chama Jacques Chaban-Delmas, o homem da «Nouvelle Société», resistente, amigo de François Miterrad e patrono de Jacques Delors, mas Nicolas Sarkozy. E isso muda tudo.

Votaria (a ser francês) em Ségolène Royal se ela, na segunda volta, se defrontasse com Sarkozy. Mas Bayrou é, de entre todos os possíveis adversários do candidato da direita francesa, aquele que tem mais hipóteses de finalmente o vencer. Por isso – chamem-lhe voto útil, chamem-lhe o que quiserem – votaria Bayrou logo na primeira volta. Para não correr o risco de eleger Sarkozy.

Voto negativo? Voto contra antes que voto a favor? Talvez. Mais, je m’en fous. Como disse Michel Rocard – com a sua deliciosa mania de ter razão antes de todos os outros – o que importa é impedir a vitória do pequenote imbuído da superioridade da civilização ocidental. Olhem para a cara dele! O homem é falso - um sacana (desculpem a expressão). Ninguém pode votar nele e dizer, depois, que se enganou.

Não minimizo as dificuldades de Bayrou, se for eleito: a necessidade de construir uma maioria a partir de partidos que o não apoiam; a dificuldade de encontrar um caminho entre uma direita de fiéis clientelas (vindas de Chirac) e uma esquerda que não compreende o mundo em que vive; os inacreditáveis obstáculos que surgem no caminho de quem pretende derrubar essas duas Bastilhas conservadoras (palavras de Bayrou) que são o PS e a UMP. Mas Bayrou traz consigo, pelo menos, a esperança de que as coisas possam mudar. Fosse eu francês, dar-lhe-ia o meu voto no domingo, e ainda o meu voto dentro de quinze dias. Quem sabe? A esperança morre devagar.

PS. Pese embora a Paulo Dentinho e, em geral, aos apresentadores dos telejornais portugueses, o nome de Bayrou não se pronuncia Bérru, mas Bairru. Reconheço que é uma excepção às regras de pronúncia do francês, mais c'est malheureusement comme ça! Com efeito, o candidato é «béarnais» – como d’Artagnan! Será por isso que ainda mais nos apetece votar nele?

Bridge - Monsieur le Président

Na passada segunda-feira, fui eleito Presidente do meu clube de bridge. Uma das minhas paixões – o bridge – é, assim, de certa forma reconhecida e recompensada. Fiquei contente com a unanimidade com que a minha candidatura foi recebida, tanto mais agradável quanto é certo que não tenho, nem a fama, nem o proveito, de ser pessoa fácil: pelo contrário, é-me censurado um certo mau feitio. Espero poder alterar algumas coisas no funcionamento do clube de forma a proporcionar a todos os membros um espaço de convívio agradável – tanto mais necessário quanto é fácil, agora, jogar bridge sozinho em casa, recorrendo à Internet – e de melhor qualidade do bridge jogado. Comigo, na direcção, estão Claire Brunotti, Guyonne le Fournis (minha parceira habitual nos torneios de fim-de-semana, quando o Nuno não está disponível), Katryn Berbers e Michel de Clercq. Algum trabalho em perspectiva mas, como é costume dizer-se, «correr por gosto - não cansa.»

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Fim-de-semana em Paris

Vou a Paris de TGV para ver a minha neta. E vou tentar trazer fotografias novas.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Ninguém me liga!

Deve ser por estarmos próximos da Páscoa, mas ninguém deixa comentários no meu blogue. E eu fico com esta cara aqui ao lado... Ou sem cara, para ser mais exacto.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Calhamaço

Há poucos dias, ao relatar o meu encontro com Vikram Seth, disse que tinha saído da minha livraria preferida em Bruxelas, com um calhamaço debaixo do braço.

É certo que a palavra calhamaço é correntemente utilisada com o significado de «livro muito volumoso», e encontra-se muitas vezes associada à ideia de difícil leitura. Mas, em boa verdade, calhamaço significa «livro grande e antigo; alfarrábio; cartapácio». Ou seja, não precisamente o tipo de livro que Seth me dedicou mas antes um que tivesse comprado numa visita a um alfarrabista.

Já agora: alfarrábio significa «livro antigo e (para minha surpresa) de pouca valia»; e cartapácio (palavra de uso mais raro) «carta muito grande; livro grande e antigo; colecção de documentos manuscritos em forma de livro; ou livro de apontamentos».

QED

Teresinha no Brasil (6): Com a Avó Teresa

A fotografia que faltava para a reportagem ficar completa...

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Dia das Mentiras - Proibido fumar - nos carros!



















Sou, em princípio, favorável à maioria das proibições de fumar em espaços fechados que, ultimamente, têm sido decididas um pouco por toda a parte. Não me incomoda que não seja possível puxar do cigarro e dar umas passas em bares e restaurantes, nos cinemas, nos locais de trabalho, para já nem falar dos transportes públicos ou dos hospitais, onde a proibição é mais antiga. Mas, por vezes, vai-se longe de mais no combate ao fumador. Assim, ouvi dizer que há cidades norte-americanas em que as pessoas são proibidas de fumar nas ruas. Vá lá saber-se porquê!

Por isso quando, ontem, preguiçosamente sentado diante da televisão, assisti a esta notícia extraordinária de que a Bélgica se prepararia para proibir as pessoas de fumar no interior dos seus carros, nem me apercebi de que se tratava de logro do dia das mentiras. Ouvi um polícia a explicar-nos que certos acidentes eram provocados pelas pessoas que deixavam cair nos assentos os morrões dos cigarros e tentavam desesperadamente apagá-los, e ainda que, de qualquer maneira, havia que proteger (de si mesmos) condutores e passageiros, encerrados naqueles espaços exíguos e fechados. Tudo isso me pareceu bastante estúpido - mas já ouvi argumentos igualmente débeis para justificar medidas deste tipo. E nem sequer quando o mesmo polícia disse, sem sorrir, que havia ainda muito que fazer em matéria de segurança rodoviária, e que seria preciso também começar a pensar em punir outros comportamentos, como comer no carro, fazer a barba no carro, retocar a maquilhagem no carro e consultar o computador no carro (o que até me parece mais perigoso do que falar ao telefone), e que havia aqui «um vasto domínio a explorar» - nem sequer então me apercebi de que estávamos no Primeiro de Abril.

Foi só hoje quando, indignado, me preparava para escrever esta entrada a refilar por esta inacreditável intromissão na nossa vida privada e contra a tendência crescente do Estado moderno de se intrometer na esfera da nossa autonomia individual, que compreendi o engano. Contudo, o simples facto de ter podido pensar que se tratava duma notícia verdadeira diz muito (para além de sobre a minha distracção crónica) sobre aquilo que estamos actualmente preparados para acreditar que os nossos governos possam decidir em matéria de respeito da liberdade de cada um de nós.

Teresinha no Brasil (5): O Pai lê uma história (ou consulta o menu)

Interessada e atenta.

Teresinha no Brasil (4): Cansada

Bela vida!

Teresinha no Brasil (3): Na piscina














A chapinhar. A Mãe é que leva com a água nos olhos! O Pai observa, sagement.

Teresinha no Brasil (2): Com a Mãe

A trepar para cima da mesa, ao colo da Mãe de braço ao peito.

Teresinha no Brasil (1): Com os Pais

Em trajo de praia (os pais), ao sol, com as palmeiras como pano de fundo e, ao longe, o mar... Começa cedo nestas viagens, a Teresinha.