Para quem ainda gosta de pretender que houve alguns efeitos benéficos do imperialismo, eis um exemplo relativamente recente do que se passou com os habitantes das
Chagos Islands, a principal das quais, Diego Garcia, foi tranformada num grande porta-aviões norte-americano. E, mais grave, este foi o resultado duma espécie de passagem de poderes entre o Império britânico moribundo o Império americano nascente. Por pretensas necessidade geo-estratégicas, os habitantes das
Chagos Islands foram expulsos do seu lugar de origem e dispersos entre as Ilhas Maurícias e alguns lugares de Inglaterra, na sua maioria perto do aeroporto de Gatwick. Uma boa parte deles morreu, quase sem se saber porquê! De nostalgia ou, como diríamos, nós, portugueses, de saudade! A vida nas ilhas era pautada por uma inacreditável beleza. Nada que se comparasse aos sítios horrendos para onde foram mandados.
Para conseguir este resultado, os estrategas militares americanos mentiram ao seu próprio Governo e ao Congresso; exigiram dos britânicos, sem pudor algum, a entrega das ilhas sem os nativos, ou seja, para sermos claros, depois da expulsão das populações autóctones; e os britânicos, esses cederam, porque lhes pagaram. Para isso, foi, no entanto, necessário considerar a população das ilhas como emigrantes temporários - homens e mulheres que lá viviam quase desde sempre! A história - de arrepiar - é contada, com detalhes aflitivos, no livro de David Vine,
Island of Shame: The Secret History of the US Military Base on Diego Garcia, e comentada por Jonathan Freedland no artigo
A Black and Disgraceful Site na última edição da
New York Review of Books (disponível aqui, se conseguirem aceder ao site:
http://www.nybooks.com/articles/22691).
Duas lições: o imperialismo mente; e o imperialismo norte-americano mente tanto como os restantes, não obstante essas ideias que por aí correm de que se trata duma forma nova de domínio, mais
soft que o imperialismo tradicional. Nada que não soubéssemos! Mas esta narrativa faz-nos lembrar, bem a propósito, o horror do que representou, para os nativos, a invasão europeia e, depois, americana. Nenhuma ponte, nenhuma estrada, nenhum caminho de ferro, poderá compensar essa dor, essa tristeza, essa saudade. E pontes, estradas, caminhos de ferro e barragens, são, infelizmente, a única coisa de que os países europeus se gabam de ter trazido aos países que dominaram! (Como nós, portugueses, com Cabora Bassa, em Moçambique.) Há pouco tempo, Sarkozy vinha dizer que, na análise do imperialismo, se devia ter em conta o que a Europea trouxe a esses países atrasados - certamente incapazes de aceder, por si mesmos, à modernidade! É uma forma nova de celebrar o bom Rei Leopoldo II, o proprietário do Congo, o homem dos escravos, das crianças de mãos cortadas para garantir que os pais trouxessem a borracha nas quantidades requeridas! Pudéssemos, ao menos, dizer que estas coisas tinham acabado: este livro mostra, infelizmente, que não!
PS. Depois de perderem, na
House of Lords, a acção que iniciaram contra o Reino-Unido por terem sido espoliados da sua pátria (reconheço que esta é uma forma parcial de descrever a situação, mas vem de dentro da alma!), os habitantes das
Chagos Islands recorreram para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Eles nem pretendem exigir a saída dos americanos: apenas que lhe seja dada a possibilidade de viverem e morrerem onde nasceram!